quarta-feira, julho 29, 2009

Cooler than a million

MF DOOM é um daqueles caras que dá raiva. Sabe quando tu é moleque e pensa no que quer ser quando crescer? Pois é, você pensa nele. Tem mais pseudônimo do que dedo na mão: Viktor Vaughn, Zev Love X, King Geedorah, Metal Fingers, Supervillain. Sem contar as parcerias com Danger Mouse, onde se chama Danger Doom, e com Madlib, onde se chama de Madvillain. É pique um Machado de Assis do rap.

Talentoso pra caralho, faz sons que moldam o atual mundo do rap, principalmente o underground. Fazia sucesso com o seu grupo KMD até a morte do seu irmão, em 93, fazendo com que DOOM entrasse em um hiato de quatro anos. Desde então ele se apresenta como um vilão de quadrinhos, nunca aparecendo sem sua máscara. Um jornalista da HHC o entrevistou e, pra tanto, ele teve que viajar sem saber aonde o encontraria, foi dado uma senha para a entrada do clube, 'Villain', e, quando o viu pessoalmente, estava cercado por um gangue mascarada e com bastões de beisebol. Tudo pra criar o clima de super vilão que ele passa em suas músicas e atitude.

Lançando de cinco a seis álbuns por ano, de remixes a bootlegs, ele é uma verdadeira usina de música de boa. Alcançando notoriedade de crítica e de público pelos seus discos da Stones Throw, ele produziu beats para caras como Gorillaz e Ghostface, e acredita no trabalho colabotivo como sendo essencial. "É como quando caras do jazz se encontravam como quartetos e gravavam álbuns, tá ligado? É a mesma coisa, aos meus olhos. Eu gosto de misturar", disse à BBC.

O rapper ainda adota uma técnica do Pelé - só fala em terceira pessoa quando se refere a si. Diz que é mais abrangente, que ele é mais forte que eu entende? Doido por histórias em quadrinho, diz que entre Sandman, Dr Octavius e Dr Von Doom, o Sandman morria primeiro, seguido pelo Octavius e ainda cita fonte: Spiderman and Fantastic Four: Doomsday book two. Com uma inteligência fora do comum pra um doido de máscara, embasa tudo o que diz com bibliografia e referências cinematográficas. Até já escreveu um livro para crianças no estilo Doctor Seuss. Apesar de sua música ser única e seu rap algo absolutamente fora da órbita do bling bling e do fake gangsta, ele, em si, é mais interessante do que tudo isso: diz que quer alcançar mais de quinze mil posts no mfdoomsite.com. "Todo mundo precisa abrir a cabeça e sacar que isso é mais profundo que, você sabe, só a merda padrão do rap", declara pra revista No Ripcord.

Maneirismos e idiossincracias a parte, escutem o que ele tem a dizer e leiam as tracks. As melhores estão no myspace, mas outras igualmente boas podem ser ouvidas no site da gravadora, a Stones Throw.

R. Darci

Mama Afrika never lets you down #6

O Mama Afrika volta em sua sexta edição, e dessa vez, mais diversificado do que nunca. Do rei do pop ao meste do jazz etíope, só pedradas!

Michael Jackson - Wanna Be Startin' Somethin'

Uma das melhores tracks do Michael. Wanna be Startin' Somethin' é a primeira música do disco Thriller e tem uma forte pegada electro funk e boogie. Vale ressaltar que ela foi originalmente composta para o primeiro disco do rei do pop. Mesmo aparecendo no seu disco de maior sucesso, é uma música que pouca gente lembra, um dos grandes motivos para sua aparição por aqui.




Mieko Hirota - Be My Baby

Grata e agradável surpresa para nós. Mieko Hirota foi a primeira cantora japonesa a participar do conceituado Newport Jazz Festival, fato que alavancou sua carreira. Se transformou em uma das principais cantoras pops do Japão, tendo, inclusive, cantado a música tema do desenho maior sucesso produzido por eles: Kimba, the white lion. Aqui, uma bonita versão de Be My Baby, que vale também por ser exótica.




Taj Mahal - Ain't Nobody's Business But My Own

Blues no Mama Afrika? É, já era tempo. Taj Mahatal, aka Henry Frederick, depois de uma série de estudos na área de etnomusicologia, um modo chique de falar que ouviu muita coisa produzida fora do seu quintal, entrou em contato com sons africanos e caribenhos. Foi um dos poucos caras da área a compor e tocar calypso e reggae. Essa foi a razão de um pequeno debate sobre qual som incluir, se este ou outro intitulado "Calypsonians". Contudo, é foda, falamos tanto de reggae e calypso que mesmo colocando um artista de blues vamos inseri-lo tocando calypso? Não, não.




Big Youth & The I Three - Every Nigger Is A Star

Também chamado de Jah Youth, o cara é um puta toaster jamaicano low profile que só atingiu algum sucesso moderado lá pelos anos 70 com The Killer. Apesar de ter assinado com a Virgin e ter aparecido no filme Rockers, o cara nunca teve um sucesso estrondoso. Já the I Threes é um trio vocal feminino que contém uma parcela grande da nata das cantoras da ilha: Judy Mowatt, ex-Gaylettes, Rita Marley e Marcia Griffiths. As três medalhões do reggae faziam os backing vocals de Bob Marley depois que Peter Tosh e Bunny Wailer sairam dos Wailers. O melhor de tudo é que a track é cover do Boris Gardiner, ex-calypsonian e depois reggaeman nascido na Jamaica, mas que não tem nada de jamaicano.



Mulatu Astatke - Yegelle Tezeta

A gente fala de tanta coisa estranha na Action que em dois meses estaremos falando de house guianes. Se bem que este é um caso especial, acreditamos que a maior parte do público da ACTION manja quem é Mulatu Astatke. E, se não manja, que vergonha. Etíope, viajou o mundo estudando música, inclusive sendo o primeiro africano em Berkeley. Criou o Ethiojazz, um estilo de jazz soturno, arabesco e absolutamente único. É complicado definir direito o que ele toca sem errar. Na verdade, só dá pra dizer que, realmente, é bom.

terça-feira, julho 28, 2009

O roots da arte gráfica, Gráfica Fidalga


Hoje o post é curto. O motivo é simples: Tem um mini documentário legal pra caralho sobre a Gráfica Fidalga. Pra quem nunca ouviu falar, trata-se de um trio que produz lambe-lambe utilizando uma velha impressora alemã com os tipos móveis - aquelas letras entalhadas em madeira - e muita paixão pra executar esse trabalho.

Acontece que esse trampo deles acabou ganhando um culto fodido entre os designers e entusiastas das artes gráficas. Tanto que a revista de arte Cool Hunting produziu esse mini documentário que conta com imagens bacanas da oficina e depoimentos dos caras.

A Action é fanática por processos antigos de impressão, foi inevitável não pirar quando vimos o vídeo há uns meses atrás. Técnicas assim são sempre raras de permanecerem. Tecnologia é foda, a tradição cai como supérflua ou ineficaz e, principalmente com arte, não é bem por aí

Ah, e antes que eu me esqueça. Quem quiser produzir lambe-lambe ou simplesmente conhecer os caras -dizem que são gente finíssimas-, a gráfica fica em Sampa na Rua Fidalga, 490, lá na Vila Madalena. Pra mais informações até de como chegar ao local, o telefone deles é 9396-9213.

segunda-feira, julho 27, 2009

Tags para postagens

Agora navegar por aqui ficou mais fácil. Bem, já devíamos ter implementado essa função antes, mas por pura preguiça ela só apareceu agora. Tags ou Marcadores, a função é selecionar as posts por conteúdo, sem ter que utilizar o Search. Espero que curtam!

sexta-feira, julho 24, 2009

O deep groove do samba de Arthur Verocai

"Eu poderia ouvir seu álbum todo dia pelo resto de minha vida", confessa Madlib, que não é tão fácil assim de agradar. Você sabe que, vindo dele, esse é um dos melhores elogios que se pode conseguir. E, pra Arthur Verocai, não faltam elogios. O multi-instrumentista carioca de personalidade low profile já foi sampleado por caras como MF Doom, Madlib, Ludacris e até mesmo por Spike Lee em Faça a coisa certa(Do the right thing).

Verocai mistura a Bossa com um funk de groove pesado. Samba se mescla com o jazz e faz uma ponte entre a música brasileira e o soul norte americano. Vira o que alguns depois chamariam de Brazilian soul. Ao contrário do que a maioria acha, o próprio já descarta a conexão dele com a Tropicália. "Minha música não tem nada a ver com Tropicália. Nada. Fui influenciado por Milton Nascimento". Abençoa todos os DJs que o samplearam, "eles compõem remixando".

Arthur Verocai is living proof that soul transcends generations, races, and creeds. If you are a producer and don’t know who this guy is, then you don’t know soul music at its best. Welcome to Brazilian soul. Meet Arthur Verocai
9th Wonder

Bem vindo de novo, Verocai

Atualmente, dizem - o producer que não conhece Arthur Verocai não sabe do que está fazendo. No entanto, ele entrou em um hiato de 30 anos desde seu último trabalho. Voltou a fazer novas tracks a partir de 2002, sendo que durante esse tempo fez televisão, comerciais e -acreditem- jingles. Aparentemente, o mercado fonográfico não estava pronto pra ele. E acho que nunca estará, ao menos no Brasil. Ainda é dificílimo achar material e informação sobre esse artista.

Desde 1972, quando gravou o disco Arthur Verocai, ele lançou Saudade Demais, em 2002, e Encore, de 2007. Recentemente foi chamado para se apresentar em Los Angeles, para uma série de shows chamada Timeless. As outras apresentações esgotaram os ingressos, com os pesos pesados Mulatu Astatke e Miguel Atwood-Ferguson com uma orquestra de 40 integrantes.


Pega pra capá

Em plena ditadura militar, lançou seu debute - Arthur Verocai. É um dos poucos discos que pode-se dizer: não falta nada, não sobra nada. Classudo ao extremo, com arranjos trabalhadíssimos, das cordas aos metais, emociona sem pieguice. Ele supera a canhestrice que imperava na música brasileira da época, criando um clássico desconhecido da música brasileira. A autêntica rare gem.

As faixas, todas únicas e surpreendentes. Presente grego, remetendo a ditadura militar, um ode ao que os militares davam ao Brasil da época. Na boca do sol, uma canção nostálgica sobre o interior, apresenta frases de metais que simplesmente não sairão da cabeça - os arranjos sem paralelos na música, deixando claro porque tanta gente as sampleou.


Olhando pro futuro

O último CD, Encore, mantém toda finesse que fez ele famoso entre os americanos e nos faz sentir saudade do que já foi nossa música. Parou no tempo em que o deep groove do funk deu as mãos pra poesia do samba. A faixa Tudo de bom é uma incógnita; é como a bossa dos swinging sixties mas com, justamente, swing demais pra isso. O álbum conta com três faixas com os colossos do Azymuth e uma com Ivan Lins, num agrado a mais.

Um dos raros músicos que ainda fazem um bom trabalho depois de tanto tempo de trabalho, Verocai impressiona com a qualidade e as referências que tem em plenos anos 2000. Apesar de tocar num estilo que saiu de voga há décadas, é um dos sons mais inovadores e aliviantes atuais. Ouvir qualquer um deles é ficar em dúvida do ano de sua produção, bem como a inevitável felicidade de saber que ele voltou -e continua- na ativa.

Curtam Na boca do Sol:



R. Darci

quarta-feira, julho 22, 2009

Lançado documentário sobre precursores do reggae


Rocksteady: The Roots of Reggae narra a trajetória do Rocksteady, estilo surgido no meio da década de 60 e que deu origem ao Reggae. Uma produção internacional entre Canadá e Suíça, são 90 minutos com footages raras, trechos de shows e entrevistas com músicos e cantores que marcaram o estilo.

A premiere internacional aconteceu na Montreal International Jazz Festival onde, inclusive, houve um show com as estrelas do ritmo criado por Hopeton Lewis. Sua estréia internacional será esta sexta, dia 24, em Vancouver e Toronto.


Uma jóia

A dupla que dirige o documentário contou para o jornal canadense The Canadian Free Press que ouvem música jamaicana desde criança, razão maior para a criação da obra. Segundo o diretor da película Stacha Bader, a descoberta do ritmo foi como encontrar uma jóia e acrescenta "você tem no Rocksteady toda a fundação para o reggae e tudo mais que veio da Jamaica". Ele mesmo admite que sabia pouco sobre o assunto até pesquisar para o filme.

A produção do documentário durou cinco anos e contou com a visita da equipe à Jamaica no ano passado. Tudo isso para conseguir depoimentos e sons dos grandes do gênero, como John Holt, Leroy Sibbles e Marcia Griffiths. Além disso, são exibidas entrevistas com o guitarrista Lynford "Hux" Brown, o tecladista Gladstone Anderson e o baixista Jackie Jackson, outros grandes da música jamaicana.


A trilha sonora do Caribe moderno

Kingston era sinônimo de ebulição nos anos 60. Uma cidade em evolução desenfreada, saindo do velho esquema da República de Bananas e vilas de pescadores para ganharem novos meios de comunicação e o ínicio do desponte como uma capital regional caribenha. Para quem era reduto de turistas, as ilhas estavam progredindo a passos largos e inquietantes.

O Rocksteady foi o ritmo que embalou essa geração apressada que havia absorvido e reinventado o jazz e o soul. Sucedendo o Ska no meio da década de 60, essa nova forma de música teve um ápice curto mas memorável. Do trio vocal Paragons, das I-Three, de Alton Ellis e Ken Boothe, essa onda de artistas marcou a música mundial. Apesar disso, o estilo nunca teve o peso do ska, e muito menos do reggae, porém conquistou uma legião de seguidores. Entre os famosos, os britânicos do UB40 fizeram várias versões de clássicos Rocksteady, bem como Blondie fez famosa a canção original dos Paragons, a The tide is high.

Rocksteady: The Roots of Reggae por enquanto só será exibido no Canadá, sem expectativas que venha aos cinemas brasileiros. Fica a torcida de que saia em DVD em terras nacionais, mas, por ora, não é cogitada sua distribuição por aqui.


Veja o trailer:




Fontes:
Canada Free Press
Jamaica Gleaner


R. Darci e Raphael Morone
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Para quem se interessou mais pelo assunto, a Action oferece um arroubo de matérias sobre música jamaicana e Rocksteady.

terça-feira, julho 21, 2009

Rap Delights #1: Guru

Mais um quadro novo na Action! Rap Delights, curtinhas com coisas finíssimas, novas ou não, de rap.

Keith Edward Elam ou Guru, é um dos rappers mais criativos dessa boa leva da última década. Ele foi membro do grupo Gang Starr, que marcou época na cena hip hop de Nova York e contou com o fodíssimo Dj Premier.

Seu maior sucesso, com certeza, é a série de 4 volumes chamada “Jazzmatazz”, lançada por ele entre 93 e 2007. A série de discos abraça o Jazz e convida vários grandes da música negra para participar, só pra listar alguns: Donald Byrd, Lonnie Smith, Dc Lee, Macy Gray, Isaac Hayes e muitos outros, enriquecendo pra cacete essa série que sampleia só coisa fina do Jazz e do Soul.

O último lançamento do cara, "Guru 8.0: Lost and Found" conta com produção do Solar e mostra samples bem diversos, de Animals à Queen. O album ja tá disponível desde Maio. Vale a ouvida.

Além dessa série de discos, Guru é produtor, já foi dono de selo e atuou em alguns filmes nos últimos anos.






segunda-feira, julho 20, 2009

#45 Sunset Boogie in Santos

Poster Via Flickr da Action

sábado, julho 18, 2009

O show de rock

Daqui pra frente, todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreverá crônicas sobre a cidade pra Action. Hoje, sua décima segunda crônica.

ERRATA: Cagada nossa, o texto do Ciro acabou vindo pela metade aqui pra Action. O Ciro nos deu um toque e arrumamos. E pra compensar esse erro, subimos ele novamente.

Precisávamos de um lugar para nos esconder. Queria ficar sozinho com Raquel, mas sem que alguém conhecido nos visse. Afinal, eu tinha namorada e não gostaria de ser visto com essa menina que tinha conhecido há apenas alguns dias. Na verdade já estava com vontade de terminar o relacionamento e a traição seria apenas uma desculpa para fazer isso.

Pensei em ir para algum bar, mas era exposição demais. Não me sentiria confortável. Foi aí que lembrei de uma casa de shows, que ficava naquela rua escura da cidade, a duas quadras de onde estávamos. Era domingo à noite e provavelmente estaria aberta. Com sorte estaria acontecendo um show fuleiro, sem muita gente, o que me daria mais segurança e a sensação de “esconderijo” em um lugar público.

Andamos pela rua escura para chegar ao tal lugar. De longe, podíamos ver algumas pessoas perto da porta. Uns punks sentados no chão, outros em pé, bebendo vinho em garrafas de plástico. Lembrei como fazia tempo que não ia a shows desse tipo. Shows de hardcore. Cheios de gente suja, vestindo all-star surrados e fedendo a pinga e cigarro. Um sujeito se aproximou de mim e de Raquel.

- Vocês querem? – perguntou, apontando para uma garrafa de Coca-Cola de 2 litros com um conteúdo marrom dentro.

- Não, obrigado – respondi educadamente.

“Que porra seria aquela?”, pensei. Olhei para a cara de Raquel e dei risada. Achei estranha a generosidade do garoto. Talvez fosse merda engarrafada. Talvez não. Gostava de pensar que ele estava realmente tentando ser agradável com desconhecidos e que ainda havia pessoas assim no mundo.

Estava decidido. Ia entrar lá.

- Quanto é o ingresso? – perguntei para o cara da porta.

- Quinze reais.

- Quinze?!

- É, quinze. Antecipado com as bandas era dez. Agora é quinze.

Por que não pensei em comprar o ingresso com alguma banda antes? Provavelmente porque não estava planejando ir ao show. Talvez alguém ali fora fosse de alguma banda. Um cara estava saindo do local carregando uma guitarra. Corri atrás dele.

- Ei, você vai tocar aí hoje?

- Não. Estava apenas ensaiando no estúdio que tem lá em cima.

- Ah, desculpa. Ia perguntar se você tinha ingresso.

- Não tenho. Desculpa.

Que merda. Será que ninguém ali fora tinha ingressos sobrando? Eu e Raquel continuamos a nossa busca, perguntando para todos se eles eram de alguma banda que ia tocar naquela noite. De repente, um casal se aproximou de nós.

- Vocês estão precisando de ingresso? – perguntou o garoto.

- Sim. De dois. Vocês têm?

- Temos. Dez reais cada.

Dei uma nota de vinte e pegamos os ingressos.

- Consegui os ingressos – falei para o cara da porta, que fez uma cara feia. Me revistou e deixou passar. Raquel não foi revistada.

Para chegar ao lugar precisávamos subir uma escada estreita. Antes de chegar lá em cima, larguei a mão dela, só por precaução, caso algum conhecido estivesse no show. Mas nem foi preciso procurar muito por alguma cara familiar. O lugar estava tão vazio que dava para contar nos dedos os gatos pingados. Era perfeito.

Por incrível que pareça, os poucos que estavam lá não eram punks sujos. Havia umas meninas com jeito de modelo, uns caras meio nerds e uns dois cabeludos do metal para dar o clima de “show de rock”. Estar ali me fez bem. Me senti com 17 anos novamente.

A banda no palco era uma espécie de Charlie Brown Jr. cover. O vocalista parecia um garoto que bolou a aula do primeiro colegial e foi tocar com os amigos. Usava boné e uns correntões. O resto da banda era bem parecido com ele.

Fui no balcão pegar uma cerveja para mim e para Raquel. Não era cara, o que era bom, pois significava que eu podia pegar mais algumas no decorrer da noite. Sentamos no balcão mesmo e ficamos fazendo piadas sobre o Charlie Brown cover.

- Me dá um cigarro? – pedi a ela.

- Claro – ela falou, abrindo a bolsa. – Você pode pedir quando quiser. Quando eu compro cigarros é para dividir.

- É. Sempre que eu compro também divido.

Raquel colocou o cigarro na minha boca e começou a procurar pelo isqueiro. Ela era apaixonante. Dizia aquilo com um sorriso muito verdadeiro no rosto. Seus dentes eram perfeitos e brilhavam na luz negra. Ela usava uma blusinha roxa, que deixava os seus peitos pequenos bem apertados e ao meu alcance. Eu tinha vontade de comer ela ali mesmo. Mas preferi esperar.

A banda seguinte tocava grind core. Umas músicas de quatro segundos – literalmente -, nas quais dava tempo de o guitarrista dar cinco porradas na guitarra e os dois vocalistas trocarem uns berros guturais.

O show era muito melhor do que o anterior. Os integrantes da banda pareciam estar completamente chapados, rindo muito um da cara do outro nos intervalos entre as músicas. Pelo menos estavam se divertindo. E eu também.

- Essa próxima música se chama... “Ce é bicha, mano?”

E o guitarrista tocava um acorde, os dois davam um berro e pronto.

- Ele esqueceu a letra – disse um dos vocalistas, apontando para o outro. E começavam a dar risada.

- Meu Deus. Esses caras são muito engraçados – disse Raquel.

- Muito.

- Eu vou no banheiro, tá?

- Vai lá.

Enquanto ela ia ao banheiro, resolvi ir buscar outra cerveja. Fui até o balcão, mas não havia ninguém atendendo. Olhei para o lado e vi Raquel parada na frente da porta do banheiro. Fiquei um tempo olhando até que ela virasse e me visse. Sorriu. Esse era o momento que eu esperava. E ela também.

Peguei ela pela mão e a puxei para o corredor do banheiro. Estava escuro e ninguém nos veria ali. Comecei a beijá-la loucamente e a apertar o seu corpo contra o meu. Raquel enfiava as unhas na minha calça jeans, tentando abrir o zíper. Colocou o meu pau para fora e começou a chupar ali mesmo. A sensação era boa. A melhor do mundo.

Resolvi colocá-la dentro do banheiro e trancar a porta. O chão estava sujo de mijo e vomito, mas tudo bem, ficaríamos em pé. Tinha tão pouca gente naquele lugar que duvidava que em dez minutos apareceria alguém querendo usar a privada. Trancados no banheiro dava para fazer mais coisas. Arranquei a sua blusinha roxa e tirei o seu sutiã. Seus seios eram perfeitos e aqueles mamilos escuros me deixavam louco. Comecei a beijá-los e a chupá-los.

Ela virou de costas e enfiou o meu pau na sua buceta. Colocou uma perna em cima da tampa da privada e levantou a bunda. Eu metia com força e ela gemia. Mas era quase inaudível por causa do barulho da banda lá fora.

Raquel estava completamente nua agora. Puxei o rabo de cavalo e soltei o seu cabelo sobre a sua cara. Se olhava no espelho imundo daquele banheiro e fechava os olhos. Provavelmente via o meu corpo suado em cima do dela. Coloquei a mão na sua boca para os gritos não saírem muito altos e gozei.

Ainda ofegante, virei o seu rosto de lado e dei-lhe um beijo na boca. Foi um beijo desajeitado e babado, mas gostoso. Passei a mão sobre o seu rosto e tirei o cabelo molhado que estava grudado na sua cara. Ela colocou a roupa rapidamente e saímos dali. Não havia ninguém. Todos ainda estavam vendo o show.

Voltamos para o lugar onde estávamos antes. Passei no balcão e peguei a cerveja que queria. Tudo estava igual, exceto que o nosso sorriso era bem maior agora.

- Essa próxima música é um protesto... Assim como todas as outras!! – dizia a banda de grind core no palco.

Raquel dava risada e colocava um cigarro na minha boca e um na dela. Parecia uma criança feliz.

- Só um minuto – falou, tirando o celular, que estava tocando, da bolsa.

Fiquei olhando para ela, enquanto falava no telefone.

- É... Sim... Não... Estou aqui vendo um show... É. Com um amigo... Tá, eu espero... Um beijo... Tchau.

- Quem era? – perguntei.

- Minha mãe. Ela disse que vai vir me buscar. Você quer uma carona?

- Acho que não. Vou ficar aqui.

- Tem certeza? Não tem problema. Ela não liga.

- Não, tudo bem. Volto para casa a pé.

- Você é que sabe.

- É que eu realmente preciso ir. Acordo cedo para ir à aula amanhã

- É, eu sei. Tudo bem. Não tem problema. Eu vou ficar bem.

- Então tá.

- Depois a gente se fala.

Me deu um beijo na boca e foi andando em direção à saída. Desceu as escadas devagarinho e com elegância. Jogou a ponta do cigarro no chão, pisou e soprou a fumaça para o lado.

Permaneci sentado no balcão, tomando minhas cervejas e assistindo às bandas que se apresentavam. Eu precisava fazer aquele ingresso valer a pena.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

sexta-feira, julho 17, 2009

O que é meu não é seu – mas pode ser

Tudo que é bom é inesperado. Acontece que a Action ganhou um colaborador novo. Fã de The The e grande mentiroso, vos apresento a coluna de Leonardo Marques. Toda sexta-feira na Action. Hoje, a sétima edição:

O primeiro livro que me causou angústia foi 1933 foi um ano ruim, do escritor norte-americano John Fante. A primeira música que me fez chorar - apesar de ser uma alegria só - foi Penny Lane, dos Beatles. O primeiro filme que me mostrou que a estupidez pode ser genial foi O Balconista, do Kevin Smith.

Basicamente, sou um homem angustiado, emotivo e estúpido. Na real, todo mundo é angustiado, emotivo e estúpido. Só as razões é que diferem. A famigerada particularidade.

Tenho um amigo. O nome dele é Flávio. A mãe o chama de Frávio. Nós o chamamos de Falcão. Falcão nasceu no interior de São Paulo, em Piracicaba. Falcão tirava foto sem camisa, só de cueca e colocava no Orkut. Falcão retocava o rosto cheio de espinhas no Photoshop para não queimar o seu filme com as garotas. Falcão fazia sessões de strip-tease na frente da web can. Falcão sonha em se tornar um ator pornô. Ele diz que o seu pinto mede 21 cm. O ator predileto de Falcão – tirando o mega star da pornografia Rocco Siffredi, que é hour concour – é o ex-lutador de luta livre The Rock.

Vicente nasceu pobre. Desde criança percebeu que preferia os meninos às meninas. A sua mãe era cega. Não porque não sabia de nada. Era cega porque não sabia que o céu era azul. Era cega porque não sabia o que era azul. Era cega porque nunca se viu no espelho. Era, porque se foi. Vicente virou bombeiro. Conheceu o mundo. Tornou-se um grande desenhista. Fez amigos na Itália. Fez amigos na Suécia. Fez amigos na África. Fez amigos em Vicente de Carvalho. Conhece a vida de Carmen Miranda como poucos. Conhece a minha mãe como poucos. Vicente é meu tio. Mas Vicente não é o meu tio de sangue. Embora eu o considere mais meu tio do que qualquer tio que tenha o meu sangue.

Aos nove anos de idade, Pietra ainda não tinha os incisivos centrais. Os dentes da frente. Imagine a Mônica sem a protuberância. Pronto. Pietra parecia uma indiazinha quando pequena. Mas Pietra cresceu rápido. Sempre a última da fila. A gostosona da turma. Pietra tem uma cicatriz na parte de dentro do tornozelo esquerdo. Tudo por culpa de um garoto. Decepção seguida de atropelamento. Duas cirurgias, sete pinos, seis meses engessada e a recompensa de se apaixonar doze anos depois: por mim.

Uns preferem tirar para colocar. Outros preferem fugir para se encontrar. Alguns não percebem que precisam sofrer para se apaixonar: por si mesmo, pela vida ou por alguém. Particularidades.

por Leonardo Marques

segunda-feira, julho 13, 2009

Lançamentos imperdíveis para 2009: Mayer Hawthorne & Dam-Funk

O ano pelo jeito vai ser repleto de coisa boa, pelo menos é o que promete a Stones Throw Records. Os lançamentos do primeiro disco do Mayer Hawthorne e do embaixador do Boogie Funk, Dam- Funk, são os itens mais esperados por nós aqui da Action.

O Mayer Hawthorne, grata revelação e que já falamos por aqui, tem sua música inspirada em caras como Smokey Robinson e David Ruffin - grandes mestres do Soul mais doce e suave - e a faz de forma única: batidas orgânicas e novas editadas em seu computador antigo se encontram com uma bela voz, trazendo toda uma atmosfera da melhor época da Soul Music, os anos 60.

O seu disco de estréia, A Strange Arrangement será lançado no Outono americano e contará com 11 tracks compostas por ele, além de um cover do grupo New Holidays. O cover e outras 2 canções, já haviam sido lançadas em forma de single e 12 polegadas, um cartão de visitas do cara. Ficamos ansiosos pelo resultado das outras músicas do disco, que já está disponível para pré compra em formato de vinil e cd no site da gravadora.

Já o Dam-Funk, outro que já teve seu nome abordado por aqui, é um dos artistas mais criativos da música atual. Seu estilo é focado no Modern Funk, uma visão do Funk que ele mesmo criou e deu o nome, que mergulha nos sons de sintetizadores vintage e batidas cheias de groove. Tudo isso inspirado no Boogie Funk e no Electro.

O cara terminou seu disco no comecinho desse mês, o Toeachizown, uma verdadeira obra prima. Dividido em 5 partes: LAtrik, Fly, Life, Hood e Sky, a primeira já está disponível para venda em mp3 no site da gravadora, que ainda pretende lançar as outras 5 edições até o Outono americano - entre Setembro e Novembro - época em que as versões em vinil e cd serão lançadas. E pelo preview no site da Stones Throw, além do som que já conhecemos, podemos esperar algumas faixas cantadas.

No entanto, esse disco não é a estréia de Dam-Funk. Ele já lançou um álbum pela Stones Throw, da série Rhythm Trax, que são vários volumes, cada um contendo um artista do label, além de dois 12 polegadas. Fora isso, ainda fez alguns remixes para artistas do naipe de Baron Zen e Animal Colletive.

A espera fica, e já estamos ansiosos pra caralho. O Mayer Hawthorne e Dam-Funk vem mostrando que se pode fazer música boa e original nos anos 2000 sem ter que usar velhas fórmulas ou outros métodos bronhas. Que essa post também sirva pra deixar nossos leitores igualmente ansiosos por esses finíssimos lançamentos.

sexta-feira, julho 10, 2009

The Tempranos, mais uma promissora banda de reggae

O Early Reggae vem despontando cada vez mais na América do Sul. Se já não bastassem as festas em Santos e São Paulo, essa vertente do ritmo ganhou, nos últimos anos, o coração dos nossos vizinhos argentinos, paraguaios e chilenos.

Assim como os argentinos do Crabs Corporation, belíssima banda que já falamos por aqui, outro grupo que vem despontando é o The Tempranos, do Paraguai. Os caras vieram no último dia 4 pra tocar na já tradicional Jamboree e fizeram bonito.

Surgiram em 2008, acompanhando o crescimento da recente cena reggae guarani, e contam com um instrumental trabalhadíssimo, com metais e teclado. Aliás, o Early Reggae não é só uma das influências do Tempranos, é só reparar nos vocais soulful de Ruben Capdevilla.

Os caras também são bons amigos do Crabs Corporation, tendo inclusive, tocado com um dos membros da banda em Assuncion. Outra parceria bacana foi com uma sound system de Ciudad del Este e do brasileiro Cae Selector.

Fica aí a dica. Se vocês perderam o show na Jamboree, se foderam. Foi uma excelente oportunidade de conferir ao vivo uma das boas bandas dessa renovada cena reggae sul americana, que já nos presenteou com bandas do naipe de Satelite Kingston, Mimi Maura e Dancing Mood.

Enquanto eles não voltam pra cá, deixamos o endereço do Myspace do Tempranos, que conta com as músicas do Ep lançado em Maio deste ano.

quinta-feira, julho 09, 2009

2Deep - mixtapes de rap

Um amigo pessoal aqui do pessoal da Action, o Sono, um dos criadores da Jamboree, tem, há alguns meses, um podcast no site da MTV que fala só do que o cara mais entende: RAP. Principalmente rap underground, ele fala de caras desconhecidões e sempre tem umas pedradas interessantes. Faz tempo que já deveríamos ter falado disso, mas, bem, somos preguiçosos.

Ficou a dica.

quarta-feira, julho 08, 2009

A mística da Strata-East


O que seriam dos fãs não fossem as gravadoras? Um conceito bacana de produção, seja pelo estilo tocado, a seleção dos artistas ou até mesmo pela beleza das capas e dos labels de seus discos. Tudo conspira a favor de uma label competente. Uma delas é a Strata-East.

Criada em Nova York em 71, foi a resposta dada pelos músicos Stanley Cowell e Charles Tolliver após a recusa de uma gravadora a lançar seus discos. Estava aí o primeiro indício do Do it Yourself na música, antes mesmo do surgimento do punk. O nome estranho foi inspirado em uma ação feita por alguns contatos de Cowell em Detroit para promover espetáculos pela região, refletindo ainda mais a atitude independente dos caras.

A vontade dos dois músicos negros era dar qualidade na prensagem do vinil junto com liberdade total aos músicos. Com essa garantia dada pelos próprios, já veteranos no Jazz, a vinda de outros artistas à Strata foi imediato. De Clifford Jordan, Pharoah Sanders a Gil Scott-Heron, o catálogo da Strata era amplo, variando do Free Jazz ao Soul.

Com essa diversidade de artistas no catálogo somada à questão mística e espiritual abordada pelos seus lançamentos, a label foi ganhando fãs cativos, sendo marcado pela mistura única de Jazz com música africana e indiana, sem perder o lado Soulful. O sucesso, no entanto, era o de qualquer gravadora independente. Mesmo tendo lançado o debut de Gil Scott-Heron e de outros caras fodidos, eles nunca tiveram o peso de uma como a lendária Blue Note.

Em matéria de lançamentos, há boas e más notícias pra quem busca os discos. Se sua pegada é os original press, tá fodido: é dificilimo achar alguma coisa. O selo Soul-Jazz chegou a comprar os direitos e lançou duas coletâneas há uns anos atrás, que infelizmente já estão fora de catálogo. Ou seja, verdadeiras gemas para os ricaços colecionadores no eBay. Maldito sejam.

Agora, um lado bacana que eu sempre faço questão de mencionar, é o artwork. As capas da Strata-East eram lindas, e tem um processo evolutivo interessante. No início eram simples, usando na maioria das vezes o símbolo da gravadora e fotos, mas, aos poucos, foram ganhando um visual cada vez mais impactante, refletindo o período espiritual e a própria música tocada. Um exemplo disso é um cartaz promocional lançado que continha uma enigmática foto da Esfinge com uma pirâmide de fundo. Ao lado, os dizeres:
"In all beginnings...
a mystical, magic force, What course, what destiny...
determined in time".
Queóps cagaria tijolos ao ver isso.

Infelizmente, essa gracinha já não existe mais, embora seu tosquíssimo site oficial esteja no ar e indique o aniversário recém completado de 38 anos. A esperança é que Cowell e Tolliver voltem a lançar material e a reativem. Se não, ao menos temos sites de fãs e outros tributos - como o nosso aqui, pra lembrarmos dessa bela gravadora de Jazz chamada Strata-East.

R. Darci e Morone

terça-feira, julho 07, 2009

nextnextnext: FUTURAFRICA com Xis e Veiga & Salazar


Uma das festas mais bacanas de Santos feitos por verdadeiros mitos de Santos tá de volta. Composto pelos pesos pesados Dj Lufer e Maurão, mandam bem pra caralho na discotecagem e na seleção das atrações. Já fizeram o Mercadão Sonoro, com dj Pezão, e a última Futuráfica, no Internet Bar, que contava com Totonho e os Cabras e o talentosíssimo Bnegão. Tudo isso com a discotecagem do Parra, da Disqueria, o Beto Machado, do Radiola Santa Rosa, e o próprio Dubkilla.

Agora a volta conta novamente com a discotecagem de Lufer e Dubkilla, com o reforço de Beto Machado. De atrações principais teremos Veiga & Salazar, uma dupla de hiphop mais enxuta possível na formação, a dupla e um dj, e o rapper que dispensa apresentações, o Xis.

A noitada acontece no Internet Bar, na Mal. Floriano Peixoto, 302, em Santos-SP, dia 12 de julho, sábado agora, começa as 9 e custa 20 mirréis. Quem não conhecer, escuta Veiga & Salazar e Xis. Vale a pena.

*O flyer não é oficial, tendo sido criado pelo Morone, aqui da Action.

Mr Lover Man! Shabba!

Há cerca de alguns meses nós contribuimos a Agenciau com uma coluna semanal. Existem algumas verdadeiras pérolas por lá e, por isso, e pelo fato de termos preguiça de escrever coisas novas, estamos revivendo as melhores matérias de lá. Algumas já foram postadas aqui, mas daqui pra frente as postaremos todas as terças feiras.
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Aaaaah, quem não lembra do refrão ‘Mister lover man…SHABBA!’ ? O cara fez um sucesso do caralho na onda de um pequeno boom do dancehall, que também trouxe Shaggy com Bombastic. Nasceu na Sturgetown com o nome de Rexton Gordon e não cria mais nada desde seu dueto com King Jammy, porém é um dos ícones do slackness e das letras apimentadas do Dancehall estourado fora da Jamaica.

Um dos seus primeiros nomes foi Co-Pilot porque na Sound System fazia par com o selecter Navigator, e com ele lançou o single ‘heat under sufferer’s feet’, o calor sob os pés do sofredor.
Em 1989 o sexo virou o alvo de Shabba e lançou mais de cinquenta singles, muitos virando hits, como Live Blanket, e seu primeiro som a estourar, Telephone Love, do álbum Rappin with the ladies.

Seu clássico está presente, juntamente com Pirate’s Anthem, no LP holdin’ on. Mr Lover Man estourou nas rádios e teves, sem perdão. Até hoje muitos lembram dele gritando fanho o próprio nome após o coro Lover Lover. O cara depois dessa nunca mais emplacou nada internacionalmente e por isso ainda é visto como um artista ‘one hit wonder’.

Além disso, foi um artista controverso e com participações com grandes artistas, como Maxi Priest, Chuck Berry e KRS-One. Porém empersonificava um lado da Jamaica até então desconhecido para estrangeiros, com declarações como ser a favor da crucificação de homossexuais e letras dizendo que seria divertido se a Jamaica legalizasse armas para matá-los, na música No Mamma Man, ‘Homem sem mãe’. Essas polêmicas, entre outras, são dadas como razão para seu declínio sem volta. Porém, a homofobia é algo comum na Jamaica e seus artistas, portanto, não se espantem se algo do tipo for citado com outros artistas.

Fiquem com uma track do cara que fez a cabeça das mulheres em Barbados, Twice my age, ‘O dobro da minha idade’.

R. Darci

Confiram os outros textos da nossa coluna na Agenciau:

A Eterna Alice Coltrane
A diáspora chinesa e a música jamaicana
El Lissitsky, o mito multimídia dos anos 20
Robert Crumb e os Cheap Suit Serenaders

sexta-feira, julho 03, 2009

King of pop never lets you down

O Mama Afrika, novamente, em edição especial. Após Barack Obama, homenageamos hoje o recém falecido Rei do Pop, o insubstituivel Michael Jackson. Pouca gente sabe, mas os jamaicanos o adoravam. Podemos encontrar covers do cara em versões reggae, ragga e até dubwise. Inclusive nos anos 80 surgiram dezenas de versões baratas de hits do artista. Hoje vamos falar um pouco das melhores.


Yellowman e Peter Metro - The girl is mine

Peter Metro, um deejay com apenas cinco álbuns, nos traz uma versão com o incomparável Yellowman, o albino do reggae, de uma das músicas mais subestimadas do Michael - The girl is mine. Gravado em 84 e lançado no disco Peter Metro and friends, é uma das principais tracks do disco e uma das mais bacanas versões do Rei.



Derrick Laro and Trinity - Don't stop till you get enough

Reggae se encontra com R'n'b nesta versão deejay de 'Don't stop till you get enough', de 1980. A track inclusive dá uma pequena repaginada nos metais ao substitui-los por sintetizadores e guitarras, dando um ar de club reggae à coisa toda, neste que foi lançado pelo selo do Joe Gibbs.
Talvez por Derrick Laro você não o conheça - inclusive, duvido que encontre mais que um ou outro pedaço de informação sobre esta track. Curiosamente, no 7" original, está Derrick Laro e Trinity, um dj jamaicano. Mas não existe, e nunca existiu, um Laro, e, sim, um Lara. O label está com um misprint, contendo um erro de identificação do reggaeman, sendo que até hoje, mesmo no Last.fm, a identificação dessa música continua com o nome errado: um erro que perdura 29 anos.



Sugar Minott - Good thing going

Pra quem curte reggae, nem precisa ler o resto. A sonoridade do cara é uma das mais interessantes da Ilha, sendo que esta versão, pra mim, só existia na voz dele - o Jackson veio mais tarde.



Junior Reid - Mashing up the Earth

Do álbum Emannuel Calling, é uma versão mais conscious, meio nyah, da famosa música de consciência ambiental do protagonista dessa seleção. Uma ótima escolha, ainda mais que foi gravada bem depois do estouro da mesma, em 2000. Uma versão claramente inspirada na original, mas com claras alterações na letra.



Shinehead - Billy Jean

Shinehead, o jamaicano que nos traz grandes clássicos sobre o tema 'não fume crack', nos presenteia com uma versão legitimamente reggae de um dos maiores hits do Michael. Na realidade, ele canta em cima do riddim Get A Lick que, após a versão dele, também fica conhecida como Billie Jean riddim. Sendo que, originalmente, esta seria uma adaptação do tema do filme 'The good, the bad and the ugly'. Reparem nos assobiozinhos. Shinehead foi um dos primeiros a utilizar este riddim, e a música apareceu primeiro no álbum Rough and Rugged, de 1986.



They don't care about us, Michael!


Confira as edições passadas do Mama Afrika aqui:

Edição 1
Edição 2
Edição 3
Edição 4
Edição 5

O fim do Jornalismo

Tudo que é bom é inesperado. Acontece que a Action ganhou um colaborador novo. Fã de The The e grande mentiroso, vos apresento a coluna de Leonardo Marques. Toda sexta-feira na Action. Hoje, a sexta edição:

Mais um texto grande – para horror dos impacientes, míopes e sensíveis – sobre um motivo estúpido

Algumas pessoas me pediram (meus amigos imaginários) para escrever um texto sobre a derrocada acadêmica do jornalismo. Como vocês (ou não) sabem, eu sou jornalista. Formado e não deformado pelo corpo docente que, agora, deve estar doente de raiva.

Fui coagido, há cinco anos, não pela força, mas sentimentalmente, por um “ser” chamado “mãe”, a arranjar um diploma. A minha carreira estudantil é dividida em três etapas: do pré à quarta-série fui o melhor aluno da classe; da quinta à sétima-série fui o pior aluno do Brasil - reprovei três vezes em todas as matérias (inclusive em Educação Artística), exceto em Educação Física, graças ao santo atestado médico escrito, sem brincadeira, pelo pai de um amigo que é ginecologista, gaúcho e ardoroso fã de Eros Ramazzotti e Andrea Bocelli; e da oitava ao terceiro colegial só passei porque a escola na qual estudava à época exigia o máximo da insignificância intelectual dos seus pupilos de classe-média inadimplente.

Após quatrocentos anos de estudo, inúmeros cochilos, incontáveis zeros, compassivos meios, milhares de erros ortográficos, divisões absurdas, tabuadas insolúveis, gafes geográficas, colas equivocadas, colas milagrosas, colas deslavadas e comemoradas como a esperada morte de todo o clã Sarney, ocasionais beijinhos, constantes foras, um batalhão de espinhas, falsos diagnósticos, duas evacuações fisiológicas pegas no flagra, eternos verbos to be, falaciosa acusação de ter cuspido na cabeça de uma menina da oitava-série que só não me levou ao linchamento graças à minha velha amizade com o simpático pior valentão do colégio, dezessete advertências em um ano, fugas mal-sucedidas, uniformes justos devido a momentâneas dificuldades financeiras, duas suspensões, nenhuma briga, campeão de 100 metros rasos, campeão de ping-pong sem mandar uma bola à mesa adversária (é sério, em outra ocasião conto com mais calma), ausências dissimuladas, voltas sem idas, nenhum sexo, o papel de árvore na peça “A Volta da Chapeuzinho Vermelho”, sheik na Festa das Nações de 1997, dançarino de tango na Festa das Nações de 1998, desabrigado bósnio na Festa das Nações de 1999, sultão quase-virgem na Festa das Nações de 2000 (a Festa das Nações dava dois pontos na média em História e Educação Artística, mesmo assim eu sempre me fudia), uma estranha obsessão púbere de mostrar a bunda em público, alvo de paixão de uma vizinha que escreveu uma carta a mim que terminava com a estranha saudação: “Miu, beijos”; três namoros, um chifre desvendado, outros chifres que devem estar incógnitos, a chegada do vigésimo aniversário, eu supus que a minha disponibilidade para ouvir alguém mais velho falar um monte de merda desinteressante já havia se esgotado.

Mas não.

Desconhecia, hercúlea era a minha alienação, A Trilogia Elementar do Fracasso Travestida de Sucesso: Faculdade + Emprego + Morte = Fez sua parte.

Os meus pais, ainda em êxtase por seu filho possivelmente retardado ter conseguido concluir arduamente o segundo grau, me deram um ano de férias para pensar na vida - nas afamadas e quase sempre inalcançáveis possibilidades que dariam o tom ensolarado ao meu futuro.

Assim, eu passei um ano tocando bateria na minha banda – a mítica, indolente e instrumental Cadillac Drama. Eu passei um ano batendo punheta imaginando surubas no Leste Europeu, sexo com empregadas domésticas suadas que esfregavam com a língua as minhas cuecas no tanque, orgasmos sinfônicos com Monica Bellucci (um amigo teve o “dom” de se masturbar na cena do estupro de Irreversível), sexo casual com a atriz Flávia Alessandra, sexo casualmente para sempre e pós-morte com Dani Bananinha, sexo casual com a apresentadora Lorena Calábria (apesar do sobrenome de marca de laticínios, não sei por que, nutria uma tara por esta mulher), sexo casual com Letícia Spiller, sexo casual com jogadoras de tênis, sexo casual com jogadoras de vôlei, sexo casual com jogadoras de dardo, sexo casual com jogadoras de rugby, sexo casual com jogadoras de qualquer coisa, com arremessadoras de peso, com mães gostosas, com mães magras, com mães gordas, com bisavós, com engenheiras, com funcionárias da Cosipa, com ciganas, com mendigas, com qualquer mulher viva, com qualquer mulher morta, com qualquer mulher apodrecida. Eu passei um ano escrevendo merda no ICQ. Eu passei um ano baixando música no Napster. Eu passei um ano alugando filmes de terror. Eu passei um ano indo a cinemas sozinho. Eu passei um ano me embriagando em baladas e provocando anões. Eu passei um ano me embriagando em baladas e passando em branco. Eu passei um ano me embriagando em baladas e voltando de ônibus. Eu passei um ano vomitando em baladas e me embriagando em neuras. Eu passei um ano pensando no amor. Será que é aquela ali? Será que é você? Será que é aquela outra? Será que é a Jennifer Connelly? Será que é a Daniela Sarahyba? Será que é a Chan Marshall vulgo Cat Power? Será que é a Marlene Mattos? Será que não é ninguém? Eu passei um ano me empanturrando em rodízios de pizza. Eu passei um ano freqüentando shows de hardcore alimentando o vazio da existência que era tão vazia que ignorava o próprio vazio. Eu passei um ano assistindo a meus amigos empinarem pipa. Eu passei um ano jogando War. Eu passei um ano jogando Winning Eleven. Eu passei um ano sofrendo com o meu Corinthians. Eu passei um ano falando mal de alguma garota ou das garotas em geral junto a meus amigos. Eu passei um ano jogando futebol e fazendo inimigos. Eu passei um ano recusando convites para ir à praia de dia. Eu passei um ano recusando convites para renovar o guarda-roupa. Eu passei um ano ignorando que um dia um ano passaria mais depressa.

Então o prazo se esgotou e encontrei a melhor saída para sanar os meus problemas: “Decidi, vou fazer inglês!”. (Imagine a cena: eu, um homem de 21 anos, sentado em um banco sem encosto para as costas e com os braços apoiados sobre um balcão de bar – bem comédia romântica norte-americana. De repente, uma mulher chega ao meu lado e diz, “Oi”. Eu respondo, “Oi”. Ela pergunta, “Qual é o seu nome?”. Eu respondo, “Leonardo”, e prontamente pergunto, “E o seu?”. Ela diz, “Juliana”, e em seguida pergunta, “Qual a sua idade?”. Eu digo, “21 anos”, e pergunto, “e a sua?”. Ela diz, “Também 21”, e pergunta, “o que você faz da vida?”. Então eu digo, “Bem, faço inglês”.)

O inglês durou um ano. Não aprendi nada. Só me apaixonei pela professora. Também não deu em nada. Eu era um nada. Nada dava certo. Nadava, nadava, nadava, nadava e nada. Sem troféus. Sem medalhas falsas. Sem emprego. Sem dinheiro. Sem amor. Sem sexo. Sem perspectiva. Com amigos sem as mesmas coisas. Sem carteira de motorista – reprovei no primeiro exame prático. Com carteira de motorista – passei no segundo exame prático por ter o mesmo nome, Leonardo, e fazer aniversário na mesma data, 9 de maio, que o delegado que estava julgando a minha performance.

De qualquer maneira, até mesmo da pior maneira possível, adentrei no cinzento prédio da Faculdade de Comunicação e Artes - a FACOS - da Universidade Católica de Santos, a Unisantos, em meados do mês de fevereiro de 2004 para iniciar a minha aventura acadêmica. Ou melhor, satisfazer as incessantes e fatigantes súplicas de minha mãe. Escolhi como primeira opção no vestibular o curso de Psicologia. Escolhi como segunda opção no vestibular o curso de Psicologia. Escolhi como terceira opção no vestibular o curso de Jornalismo. Um dia depois do vestibular (chutei quase tudo, o que não chutei, errei), vi que havia me equivocado nas minhas preferências, portanto, decidi que queria fazer Jornalismo. De todo modo, e para a surpresa de ninguém, tamanha é a facilidade para entrar na maioria das faculdades particulares do país, basta deixar cair a carteira de identidade na porta, fui aprovado em todos os cursos. Pague e Pesque. Até então, nunca havia lido um livro na vida. Nunca havia escrito nem uma mísera palavra – exceto quando recitei, a plenos pulmões e só de cueca sob uma tempestade de verão, uma poesia de minha autoria à minha vizinha nissei pela qual estava apaixonado, a voluptuosa, para a idade de 11 anos, Camila Shimi, poesia essa intitulada “Adorável filha de Bruce Lee” – não sabia que o Bruce Lee era chinês, nem ela. Ignorava escritores de qualquer espécie. Arte pra mim se limitava à música e a cinema. Ouvia desde Fugazi até John Zorn. Assistia de Kevin Smith a Larry Clark. Não era tão estúpido quanto aparentava. Era muito mais. Muito mais estúpido e muito mais feliz. A obtusidade age como um campo de força que nos protege da compreensão da dura realidade que nos cerca, portanto poucos têm a capacidade de enxergar. Fui cabeludo e voltei para casa como se tivesse sido vítima de uma arrasadora fusão de sarna com radiação de alta potência. Se com cabelo já era difícil, a careca pós-trote no carnaval não fez nenhum sucesso. Levei um susto quando vi que a maior parte dos meus companheiros de classe estava lendo jornal, me senti em um workshop que apresentava materiais para futuras moradias para mendigos. Não demorou muito para que a minha falta de conhecimento se anunciasse: 0,5 no primeiro teste de Português e “Fraco”, o que equivalia a um 3,0, no primeiro trabalho de História do Jornalismo. A motivação de desistência que me retirou do Karatê, do futebol, dos fins de semanas de escoteiro, do Kumon, do namoro com a Natalha, do Inglês, voltou à tona. Comuniquei aos meus pais que queria desistir, havia tomado uma resolução: “Quero ser músico profissional e acabar como o Benito de Paula”. Minha mãe ficou preocupada e perguntou: “Como o Benito de Paula?”. “Tá bom, mãe, esquece a ‘viagem’ do Benito de Paula, quero acabar como o Kiko Zambianchi” - e esta resposta doeu mais em mim do que nela.

Ficou acordado que eu teria que concluir, pelo menos, o primeiro semestre. E as coisas mudaram. Para sempre. Fiz um texto para a disciplina de Psicologia sobre a falta de inocência que há nas crianças de hoje em dia, tirei nota máxima, li na classe, todo mundo aplaudiu e fiquei com uma sensação boa. Botei na cabeça que já era hora de começar a ler alguma coisa. Li Charles Bukowski e chapei. Li Jack Keouac e chapei. A partir daí, não parei mais, fiquei doente, viciado em livros, receoso até o último segundo da minha vida. Allen Ginsberg. William Burroughs. J.D.Salinger. John Fante. Paulo Leminski. Céline. Norman Mailer. Chuck Palahniuk. Millôr Fernandes. Kurt Vonnegut. Nick Hornby. Somerset Maugham. Jeffrey Eugenides. José Agripino de Paula. Fiódor Dostoiévski. Kafka. Robert Crumb. Henry Miller. Lourenço Mutarelli. Hunter Thompson. Tarso de Castro. Raymond Chandler. Raymond Carver. Haruki Murakami. Alexandre Frota etc.

No meu caso, a faculdade foi importante por evidenciar que havia um rumo pelo qual eu podia seguir. Duvido que teria conhecido estas mentes maravilhosas citadas acima se tivesse optado, por exemplo, pela música. Mas não foi só a faculdade que fez isso, muito menos os professores. O proveito que se tira do conhecimento parte única e exclusivamente de si próprio. 90% de um curso acadêmico depende do interessado. Se dependesse dos ensinamentos dos professores, eu estava exercitando os “profundos” ditames do Lead até hoje. Depois do segundo semestre, a faculdade perdeu o valor. As técnicas jornalísticas supracitadas como vantagem após a queda do mito do diploma funcionam somente como uma forma de uniformizar os ratos de laboratório também conhecidos como alunos e, futuramente, como jornalistas autômatos. O fim da obrigatoriedade do diploma já existia desde que Pedro Álvares Cabral errou o caminho e ancorou aqui. No Brasil, sempre foi lei burlar a lei. Não vejo por que houve tanta comoção com o fim da suposta ditadura do canudo decorativo. Há um policial que tem um programa de variedades em uma emissora em Santos. Há um professor de física que também tem um programa de variedades na mesma emissora. Ana Hickman dá pitacos sobre o cotidiano no programa do qual faz parte na rede Record. Neto, ex-jogador de futebol, tem uma coluna no Estadão, analisa futebol e entrevista atletas há mais de dez anos. Se vivemos em uma democracia, e a classe jornalística foi uma das principais, senão a principal, fomentadora da liberdade de expressão no país, não consigo atinar para os deméritos que envolvem a opinião de qualquer pessoa que não tenha a merda de um diploma que muitos imbecis acéfalos possuem devidamente enquadrados em suas respectivas salas de jantar. A imprensa se caracteriza como um mundo de interesses. Altos-salários para poucos e baixos-salários para quase todos. A síntese do que é o Brasil. Caro empresário, anuncie para sair incólume de eventuais escândalos. Pergunte para quinze jornalistas se eles estão satisfeitos com a profissão? Pergunte se o veículo pelo qual eles trabalham, isso se ele forem sortudos por ter um lugar para trabalhar, cumpri com as leis trabalhistas? Nepotismo é vergonha para político mas não é vergonha para a família Beting? Mauro Beting diz: “Beting e Beting, o programa mais nepotista da T.V brasileira”, e depois ri. Essa é a nossa imprensa diplomada? As revistas estão “enganosamente” quebradas mas aceitam colaborações desde que elas sejam gratuitas. José Luiz Datena alimenta até hoje um ódio pelo jogador Ronaldo pelo fato de ele ter atravancado uma entrevista que o jornalista quis fazer com ele, há anos atrás, a qual foi realizada, inclusive na casa do entrevistado, à época em Madri, mas não pôde reservar dois minutos da sua agenda, durante um ano de intermitentes tentativas, para dar uma declaração a um grupo de alunos da minha classe que tentou, sem sucesso, fazer uma entrevista com ele sobre a violência da polícia brasileira que servia de tema para o trabalho de conclusão de curso.

O que funciona à imprensa tupiniquim, não funciona a mim. O que funciona a mim, não funciona a eles. Os maiores e mais inventivos jornalistas de nossa história, mortos ou vivos, nunca tiveram diploma de jornalista – ex: Millôr Fernandes, Tarso de Castro, João do Rio, Nelson Rodrigues entre outros. A tecnologia, contrariando detratores que a acusam de minar o segmento “impresso” da imprensa, só serviu para enriquecer os cofres de grandes editoras e escravizar “recém-formandos” sedentos por um lugar sob um teto translúcido que apóiam o seu sedentário alívio uniforme sobre uma mesa de acrílico decorada com fotos de familiares. Para quem discorda, observe a variedade de publicações na banca mais próxima. Convivemos com uma tendenciosa e enxugada seleção de estágios. Áreas de recursos-humanos que só servem como fachada. Aos tristes e decepcionados por tanto dinheiro gasto e absorção de técnicas jornalísticas inócuas, por favor, não sejam hipócritas. Se só bastasse piscar os olhos para ter diploma nas mãos, não hesitariam. Ao fim do segundo semestre, as conversas de bar eram mais produtivas que os solilóquios saudosistas cuspidos por professores sexagenários que faziam de tudo para mostrar à nossa “péssima” geração que “no tempo deles as coisas eram mais difíceis e emocionantes”. Pagar o diploma em 48X e beber no bar. Quem é aluno brilhante e não paga a mensalidade, não recebe o diploma. Quem é talentoso mas não tem contatos porque é incapaz de se aproximar de um desconhecido por interesse, e com certeza dez décimos da população intergalática desaprovam este tipo de comportamento diagnosticando-o como covardia, vai ficar desempregado pelo resto da vida. Foda-se o diploma!

O MUNDO CÃO É PITBULL MALTRATADO PELO DONO PRONTO PARA MATAR AQUELE QUE É CONTRA A GUERRA QUE LEVA À MORTE.

por Leonardo Marques

quarta-feira, julho 01, 2009

Nem Marvin Gaye, nem James Brown


Desde que a música é o que é, rolam ‘escândalos’ envolvendo seus protagonistas. Os maiores e que mais vêm a mente são os artistas negros: Marvin Gaye, James Brown, Michael Jackson e outros mais desconhecidos, como Don Drummond e Beenie Man. Todos esses tiveram sua repercussão na mídia, juntamente com uma extensa e parcial cobertura. Tivemos, nisso, prisões, enganos e vergonhas.

Dia 27 de maio deste 2009, no Brasil Urgente, fomos brindados pelo sensacionalismo mais uma vez – Dj Malboro, o cara responsável por fazer estourar o funk carioca na gringa, com o nome de baile funk, seria o responsável pelo abuso sexual de uma criança de quatro anos, filha de um casal de amigos de MG.

Claro que esses assuntos precisam ser noticiados, mas, como jornalista, uma das coisas que eu mais sinto repulsa é da cultura do ‘furo’ da qual a maioria dos colegas vivem. O furo é um ceonceito filho da puta para quem tem discernimento suficiente. O furo, em boas partes, vem acompanhado de uma carreta inteira de desinformação e pré julgamento. Em prol da verdade, direito do cidadão. E da glória masturbatória em ser o pioneiro sobre o assunto.

Dj Malboro foi um bom caso disso. Em termos. Depois do boom da notícia, ele nunca mais foi mencionado. Após o exame de corpo de delito, que relatava claramente que a menina não sofreu nenhum dano físico, e o Dj considerar mover uma ação por direitos morais, cadê todo mundo? Brocharam-se quem apontava os dedos e alguns foram proibidos de falar sobre o assunto .

Não precisamos de mais sensacionalismo e, muito menos, perder mais um talento da música para a irresponsabilidade. Independente de opinião pessoal, ele é o representante mundial de um dos últimos ritmos a serem criados no Brasil e, portanto, é alvo, também, da grande massa inconseqüente que ajudou a foder outros tantos. Só que desta vez, não foi necessária a morte para haver sua redenção.


*O coletivoACTION não está defendendo o Malboro, mas sim acusando a ausência de ética de alguns dos profissionais da área. A chuva cai para todos e cabe à lei, e apenas ela, proporcionar as devidas sentenças.


R. Darci

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