terça-feira, abril 28, 2009

El Lissitzky, o mito multimídia dos anos 20

Seguinte, há cerca de três meses, nós temos uma coluna semanal no blog da Agenciau, que nos tem dado uma força bacana em vários aspectos. Ocasionalmente postaremos textos bons de lá, aqui. Como ontem foi o dia do designer gráfico, vamos homenagear um dos ídolos dos membros da Action, o El Lissitzky. Aproveitem.
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Eu relutei muito comigo mesmo em falar sobre ele aqui ou mesmo lá na Action. É tipo tu ser um jogador de futebol e se meter a falar do Pelé ou do Obdulio Varela, além de ser difícil, sempre vai soar uma bronha danada, dependendo de como você direcionar as coisas.
Primeiro, já vou apontar qu e o El Lissitzky é um mito. O cara foi um dos grandes do movimento soviético de artistas gráficos que revolucionaram aquela chatice que reinava no início do século XX.


Ele era judeu e ainda jovem foi estudar fora da Rússia (nessa época, ainda governada pelos Czares), onde foi se descobrindo como artista. O que mais o interessou na época foi a cultura judaica tradicional, influenciado por um grupo de artistas russos judeus que estavam morando em Paris, um dos locais onde viveu. Os trabalhos desse início de carreira eram totalmente voltados para esse lance judaico, dando ênfase em ilustrações de livros infantis para crianças judias. Apesar de não ser judeu, eu curto pra caralho essa fase do cara, que além dele já mandar extremamente bem nas ilustrações, você já consegue sacar muito do que ele foi usar na fase posterior da carreira, como alguns elementos tipográficos hebraicos e muito contraste de cores.

Início da carreira, ilustrações inspiradas na cultura Judaica

Depois de trampar numa escola cujo dono era o conhecido pintor Marc Chagall, Lissitzky começou a desenvolver as peças de propaganda para o governo soviético, inclusive foi nessa época que seu trabalho mais conhecido foi produzido, a litografia “Beat the Whites with the Red Wedge”.
Juntamente com seu mentor Kazimir Malevich, El Lissitsky fundou o “Molposnovis”, uma espécie de coletivo de estudantes e professores que deu origem ao Unovis, grupo que buscava introduzir o Suprematismo entre o povo.


O trampo mais famoso do cara, “Beat the Whites with the Red Wedge”



Nesse período, enquanto lecionava na escola do Chagall, ele começou a fazer alguns trabalhos voltados para esse novo movimento criado. A idéia do cara era rejeitar formas naturais e se focar na criação de formas geométricas “puras”. El Lissitzky embora dividido com as idéias de Chagall e do seu mentor Malevich, acabou produzindo várias séries de pinturas suprematistas chamadas de “Proun”, termo cunhado pelo próprio para definir essas formas geométricas dotadas de perspectiva 3d que eram visíveis nesses trampos. Os Prouns ao longo dos anos foram saindo das telas e foram feitas instalações, dando início nas experimentações de Lissitzky com arquitetura. Durante essa fase, El Lissitzky voltou a produzir coisas voltadas para o Design Gráfico, como uma coleção de poemas de Mayakovsky e mais ilustrações para livros infantis, mas sem deixar de produzir mais e mais Prouns, sempre fazendo um sucesso fodido.


Um dos seus inúmeros "Proun"


Mantendo essa pegada “multimídia” dos artistas soviéticos, El Lissitzky ainda trampou como decorador de exibições de sindicatos e ainda produziu seus tradicionais posters para o governo soviético, até morrer de uma tuberculose que já acabava com o cara há alguns anos.

Todos os artistas soviéticos tem uma história interessante, tretas com minas, vodka até o talo e outras coisas bem bizarras, mas o El Lissitzky conseguiu com um apanhado de referências, criar um estilo próprio com que se adaptou em várias de suas incursões artisticas, como foto montagens, litografias e instalações. Ah, fora que é uma das principais influências da Action. E é por isso que não podíamos deixar de mencionar o cara por aqui.

3 comentários:

  1. Adorei o post
    Bem no clima, acabou de abrir aki no deserto uma exposição grandona sobre as vanguardas russas
    Muito fodida
    Tem uns cartazes lindos na parte mais recente
    Tudo em litografia e uns estudos em papel recortado.
    Dos trabalhos mais antigos o cara q eu mais gostei foi o Pável Filónov, ele tem umas figuras humanas descontruídas formando um espécie de mosaico.
    O nome da exposição é "virada russa" e por aki foi no CCBB
    ela vai abrir em São Paulo em setembro
    bom,
    fica ai a dica

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  2. Legal que curtiu a post, El Lissiztky é o cara! Agora tu me deixou ansioso pacas pra ver essa exposição...já perdi uma parecida há uns anos atrás, não quero perder essa. O Pavél Filonov eu não conhecia, vou dar uma pesquisada. Tem muita gente boa da vanguarda soviética que é meio underground, as mulheres são meio que ignoradas tambem, e tem muita coisa boa feita por elas.
    Valeu!

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  3. Puta post. Gostei da aventura que tu se envolveu com o texto. Navegar em outros mares é importante, guri. Me dei ao luxo de soltar uns pitacos sobre psiciologia dia desses e foi uma experiência bem interessante.

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