segunda-feira, agosto 31, 2009

A volta do vinil no Brasil

Eu sou um daqueles caras chatos que prefere o vinil ao CD. Não é querer ser retrô ou anti tecnologia. A real é que o vinil tem um som com qualidade superior, a capa, maior, permite uma arte mais elaborada, e a própria não portabilidade dá uma sensação diferente ao ve-lo junto de outros discos na prateleira. Acaba se tornando um objeto de decoração, algo assim.

Estou falando disso porque a única fábrica dos bolachões que existia no Brasil havia fechado há uns anos atrás. Quem desejasse produzir algo tinha que apelar aos gringos, gerando um custo final muito alto para o mercado brasileiro. Com o fechamento da Polysom, tudo parecia perdido.

A boa notícia é que a gravadora Deckdisc comprou a fábrica e está em processos finais de restauração dos equipamentos e da sua sede, que fica em Belford Roxo, no Rio. No Twitter da Polysom é possível acompanhar não só como anda a recuperação da fábrica, mas também informações bacanas sobre o processo de produção do disco de vinil.

Tentamos uma entrevista com a asessoria de imprensa da Polysom há um tempo atrás, mas tomamos no cu. Nem deveríamos estar falando deles por causa disso, mas somos legais e divulgaremos a retomada de um projeto que abre várias possibilidades bacanas. Do pequeno selo que busca tiragens pequenas aos djs, o nicho que se abre tem tudo para dar um pouco de gás no mercado fonográfico brasileiro que está em falta de novidades e conceitos. Torcemos para isso, pelo menos.

sábado, agosto 29, 2009

Entrevista Phil Driver, fundador da Soul Unsigned

Há pouco, fizemos um post sobre o trabalho da Solar Radio. Phil Driver, o fundador do programa, nos encontrou pra agradecer e topou uma entrevista sobre a rádio e seu selo de artistas independentes de soul - a Soul Unsigned. Chequem:


Primeiro, conte-nos sobre você e seu background, Phil.

Tenho 44 anos e vivo perto de Cambridge, uma cidade universitária a 80 km ao norte de Londres. Comecei no soul music bem cedo, em 1975, quando tinha 11 anos. Comecei ouvindo Diana Ross, Donna Summer, Melba Moore e então rapidamente me interessei por grandes bandas da época como Earth Wind & Fire, Brass Construction e Fatback.

Atualmente trabalho meio período como consultor de T.I. e o resto do meu tempo é gasto com a Soul Unsigned.

Como começou a idéia da Soul Unsigned? Qual sua história?

Eu comecei a colecionar música de artistas sem gravadora perto de 2002. Eu costumava olhar sites de bandas independentes em sites como soundclick.com e mp3.com. Isso foi antes do Myspace começar a ser popular para música.

Naquela época, a maioria dos independentes estavam oferecendo downloads gratis de suas músicas, então criei uma grande coleção de músicas. Em 2007, eu contactei a Solar Radio e sugeri a idéia de fazer um show com vários artistas sem gravadora. Eles responderam me perguntando se eu gostaria de apresentar o show. Foi assim que a Soul Unsigned começou, como um programa mensal na Solar.

Eu não faço mais o programa, mas semanalmente o Soul Unsigned vai para estações FM na Espanha (Exite.FM), Suécia (KissFM e MRS FM) e pras Ilhas Canárias (QFM) e em webrádios inglesas e holandesas.

E sobre o nome, porque tão incisivo?

Na realidade é só uma combinação da musica (‘soul’) e o status dos artistas que a fazem (‘unsigned’, sem contrato), significando que não há contrato formal com uma gravadora.

O que exatamente faz a Soul Unsigned? É mais uma label, um show de radio ou apenas um bom começo para artistas de música negra?

Soul Unsigned é muitas coisas. Oferecemos serviços promocionais de graça para artistas de soul sem contrato e independentes. Fazemos isso através do website, o radio e o selo… e, também, indiretamente, através de entrevistas como esta. Basicamente, qualquer modo que possamos promover a música e os artistas é bom para nós.

Quais artistas são mais proeminentes na Soul Unsigned atualmente?

Estamos mais interessados em soul, funk e jazz, apesar que ocasionalmente promovemos artistas de urban/r&b, mas precisa ser soulful e diferente de música comercial tocada em radios mainstream.

O que é preciso para ser um artista da Soul Unsigned?

O primeiro passo é nos mandar um email (soulunsigned@aol.com) para se apresentar. Nos dê o link para um website, Myspace ou video YouTube aonde possamos ouvir sua música, ou anexe algumas MP3s para o email.

Raramente lemos todo o hype e RP que artistas nos mandam. Apenas escutamos a música e se gostarmos, promovemos.

Ouvimos todas as músicas que recebemos, e sempre provemos feedback, bom ou mal. Uma track sera rejeitada caso a qualidade da produção ou o vocal sejam ruins, ou se a música em si não se encaixe nos gêneros que promovemos.

Quando podemos esperar um distribuidor sulamericano?

Wow, isso seria muito legal…! Se você souber de alguém por aí que esteja interessado em distribuir nossos CDs na América Latina, por favor, dê meus detalhes!

A Inglaterra tem uma tradição em soul lovers. Porque isso? O que o soul tem de tão agradável para o povo britânico?

Tem um grande número de Africanos/Americanos vivendo na Inglaterra, então a influência da cultura e música deles é bem forte aqui. Tendo dito isso, sou um branco de classe media, mas ainda amo (e ‘sinto’) soul music.

Já que você está na cena soul desde ’75, como você disse pra Say What News, o que mudou de então para agora?

Tudo! O mundo é um lugar completamente diferente para o artista de soul Avanços na tecnologia de gravação e a internet agora permitem que artistas façam e promovam a música muito mais facilmente, e sem depender de uma grande gravadora. O lado ruim de tudo isso é que TODOS estão fazendo e distribuindo música, mas apenas uma pequena porção é verdadeiramente boa.

Conte-nos mais sobre a cena de northern soul como um cara que vivenciou. É tudo aquilo que o pessoal fala, com os all nighters e rixas de DJs?

Nunca estive tanto assim na cena Northern, então não posso comentar, apesar de que sempre soube das rixas que você se referiu, tanto entre DJs quanto entre promotores de eventos.
Voltando ao assunto, você diria que iniciativas como Soul Unsigned se sustentam financeiramente?

Soul Unsigned não cobra dos artistas para seus serviços promocionais. Pelo contrário, nossa iniciativa é financiada através do selo e do show de radio. Somos completamente auto sustentáveis.

Quais são os melhores modos para os artistas undergrounds se promoverem, fora alternativas óbvias como Myspace?

Meu conselho para todos os artistas independentes é criar a maior rede possível. A internet faz isso tão mais fácil do que era antes. Não importa se sua música é ótima, se ninguém souber dela, você não chegará a lugar algum. Como você mesmo disse, o requisito básico é um site (Myspace ou Facebook).

A maior ferramente que uso ao promover nossos próprios releases é o Google. Estou constantemente procurando por novos contatos que possam ajudar promover nossa música. Raramente alguém chegará até você; você precisa ir e encontrá-los. É um trabalho duro, mas é o único modo.

No Brasil estamos tendo uma pequena volta do vinil, com uma de suas principais fábricas voltando a ativa e majors concordando em relançar seu catálogo. Sendo assim, como está o mercado para o vinil na Inglaterra? O selo pretende investir nessa área?

O vinil está se tornando bem popular aqui na Inglaterra novamente, mas no momento os custos de produção são altos demais comparados ao do CD. Se os valores abaixarem, faremos, sim, alguns lançamentos em vinil, mas apenas se for comercialmente viável. Ainda não estou convencido que isso seria bom para nós ainda.

Além de jazz, funk e soul, o que mais você ouve?

Minha namorada.

Quais são seus planos para o futuro, dentro e fora da label?

Enquanto label, continuaremos desenvolvendo o maior catálogo de CDs possível. No momento, estamos apenas fazendo compilações, mas esperamos começar a lançar albums de artistas também.

Quanto ao show semanal de rádio, gostaria de vê-lo mais transmitido ao redor do mundo.

E estamos lançando a nossa nova loja – www.thesoulshop.com, para que possamos começar a vender os CDs de muitos dos artistas que promovemos na Soul Unsigned.

Por favor, uma última palavra de amor para nossos leitores.

Mantenha a fé, mantenha a soul music viva!

R. Darci

quinta-feira, agosto 27, 2009

O show do Nazareth

Todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreve crônicas sobre a cidade pra Action. Depois de um período de férias, o cara tá de volta. Hoje, sua décima quinta crônica.

A viagem de São Paulo a Santos era longa. E como eu sentava no banco da frente, o taxista deixou eu escolher o que escutaríamos durante o percurso de mais ou menos uma hora debaixo de uma chuva forte. Puxou alguns CDs de dentro do porta-luvas. Deep Purple, AC/DC, Black Sabbath. Escolhi o AC/DC. Era o mais divertido.

- E do Nazareth? Você não gosta? – ele perguntou, puxando outro CD.

- Não conheço muito. Só aquela Love Hurts – falei, desapontando ele.

- Esse CD aqui é clássico – ele falou – É o meu favorito.

- Legal.

- Os caras já tocaram até em Santos... Incrível, né?

- Ah é?

- É. Eles iam fazer vários shows no Brasil. Em São Paulo. Aí, espertos, resolveram dar uma esticadinha até a praia.

- Que legal. Onde foi?

- Na Reggae Night, tá lembrado? E acredita que eu não fui?

- Putz, por que não?

- O dia do show caiu exatamente no meu aniversário de namoro.

- Sério?

- É. E eu não ia poder deixar a namorada pra ver o Nazareth. Me arrependo disso até hoje.

- Ah...

- E o pior de tudo é que o namoro acabou uma semana depois.

- Que droga.

- Devia ter ido...

E o som do AC/DC rolava no carro.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

terça-feira, agosto 25, 2009

One Yellowman inna the yard!

Há cerca de alguns meses nós contribuimos a Agenciau com uma coluna semanal. Existem algumas verdadeiras pérolas por lá e, por isso, e pelo fato de termos preguiça de escrever coisas novas, estamos revivendo as melhores matérias de lá. Algumas já foram postadas aqui, e quando rola vontade, postamos por aqui.


É por uma razão que música negra é uma das grandes diretrizes da Action e uma das grandes influências nossas. Não existe comparação com qualquer outra. Seja caribenha, norte americana ou brasileira, sempre existem grandes pérolas endornando os devidos pescoços. Hoje vamos falar de um dos mais fodidos raggamans caribenhos e uma grande exceção dessa máxima: Yellowman.

Órfão, o bonitão foi criado na icônica Alpha Boys School, em Kingston. A escola formou a maioria dos músicos importantes da ilha, sendo que ensinavam sempre teoria musical, a fim do moleque sair de lá com um ofício, e foi responsável pelo talento de Yellowman com a música. Junto com o King Stitt, ele é um dos artistas mais feios da Jamaica. No caso dele, é pelo fato dele ser um albino. Mas não um albino normal, mas um albino feio pra caralho. Daí o apelido Yellowman. Apesar de parecer o cão do avesso, não desistiu da música e, quando adolescente, venceu um concurso de toasting - improvisação no mic de um instrumental, e conseguiu um trampo como dj substituto de uma soundystem. Daí pra frente, com o talento diferenciado e a aparência exótica, o sucesso foi imediato. Pra se ter uma noção, ele foi o primeiro jamaicano a assinar com uma major americana.

Com letras satíricas a respeito da sua própria vida, lançou vários singles na década de 80, sendo que em 82 debutou com o álbum “Mister Yellowman”. O disco, aliás, é fodido, com tracks do calibre de “Mr Chin”, “Yellowman Getting Married” e “Natty Sat Upon The Rock”, o sucesso ganhou proporções internacionais. Claro. Pense nessa figura com as roupas estranhas que ele costumava usar cantando sobre comer a filha do chinês dono da vendinha. Ele até tem um álbum cujo nome é Yellow like cheese. ‘Amarelo como queijo’. Ele leva a máxima de saber rir de si mesmo a uma outra esfera completamente superior. Se tivesse nascido nos Estados Unidos, seria Rei.

A vida do homem amarelo, no entanto, não foi fácil. Em 1986 foi diagnosticado com câncer no maxilar, e os médicos não deram nem seis meses de vida para ele. Com um tratamento intensivo e difícil, conseguiu se recuperar, lançando mais três álbuns na década de 80. No começo da década de 90, vence mais um câncer, dessa vez de pele, que faz Yellowman refletir sobre a vida e a se concentrar em seu lado espiritual e social. Um ótimo exemplo disso é o álbum lançado em 1994, Prayer.

E pra quem acha que Yellowman parou, se fodeu. O esquisitão tá com 53 anos e na ativa até hoje fazendo shows pelo mundo inteiro, tendo inclusive tocado em nosso país. Em matéria de lançamentos, vem produzindo ininterruptamente e feito parcerias como com o rapper Run-Dmc. Não há o que discutir, ele é realmente o cara.








R. Darci e Morone

segunda-feira, agosto 24, 2009

Action presents: Ninakupenda Afrika! Afrojazz Mixtape


A nova mixtape da Action faz uma longa viagem para África. É isso aí! O Rui vive dizendo que um dia estaríamos falando de house ganês ou coisa que o valha, dessa vez chegamos bem perto. Sempre tivemos um carinho especial pela música africana, ainda mais pelo Jazz, que tem uma pegada bem diferente do que as pessoas estão acostumadas.

Começando com Femi Kuti,-filho mais velho do lendário Fela Kuti- a track tem um pé e meio no Afrobeat mas conserva um clima jazzy. Temos também a presença do camaronês Manu Dibango, autor da famosa Soul Makossa e diversos representantes da África do Sul: Da saudosa Mama Afrika Miriam Makeba, que faz uma homenagem ao Brasil com Xica da Silva, aos não tão famosos por aqui Hugh Masekela e Letta Mbulu. Ambos são estouradíssimos no continente africano e Masekela chegou até a gravar pela Motown e participar do Woodstock Black!

A seleção também conta com os pioneiros Salah Ragab, egípcio, o senegalês Mor Thiam, também conhecido por ser pai do rapper Akon e o maior representante do Jazz africano em todos os tempos: Mulatu Astatke. O cara faz um som único, extremamente soturno e aqui nos presenteia com a lindíssima Tezetaye antchi lidj. Ainda temos o etíope Mahmoud Ahmed com uma bela mistura de jazz com cantos tradicionais e para finalizar com chave de ouro, uma homenagem a outro etíope, Tilahun Gessesse, recentemente falecido e um dos baluartes do jazz de seu país juntamente com Astatke.

Agora, sente, relaxe e BON VOYAGE!

Para ouvir, só clicar no play. Se quiser baixar, selecione a setinha para baixo ali a direita do player!
Ninakupenda Afrika! Afrojazz Mixtape por coletivoACTION

Tracklist:

01 - Femi Kuti - Tell me
02 - Mor Thiam - Kanfera return of fisher
03 - Manu Dibango - Groovy flute
04 - Salah Ragab & The Cairo Jazz Band - Neveen
05 - Mahmoud Ahmed - Belomi benna
06 - Miriam Makeba - Xica da Silva
07 - Hugh Masekela & The Union Of South Africa - Dyambo
08 - Mulatu Astatke - Tezetaye antchi lidj
09 - Letta Mbulu - What's wrong with groovin'
10 - Tilahun Gesesse - Kasegnesh

sexta-feira, agosto 21, 2009

FUTURAFRICA 3: DE LEVE


Terceira edição da FUTURAFRICA, uma das melhores festas periódicas na city, nesta edição com o DeLeve. Confiram o release dos caras e compareçam:


Mais uma edição da festa FUTURAFRICA no NetBar, e, dessa vez, o convidado é o rapper niteroiense De Leve, que trás à Santos o show de seu último cd "De Love", lançado pela revista 100%Skate na edição 03 (maio/09), com participação especial de Totonho (PB). Abrindo a noite, DUBKILLA e os DJs Lufer e Beto Machado.

A Festa

Nosso objetivo é realizar festas mensais propagando e produzindo a cultura transmigratória e nômade, inspirados no afrofuturismo. As manifestações culturais apresentadas no projeto Futuráfrica tem como linguagem o Sound System, os filmes de ficção cientifica e estética rizomórfica, fazendo assim o papel de uma rádio ao ar livre, transformando-se em um meio de comunicação e divulgação. Nas edições anteriores tivemos como convidados B negão, Totonho e os cabra, Veiga & Salazar, Xis, Reação Global, Gatto Ninja, Caio Bosco(Radiola Santa Rosa), Dimitree & Marcelo Andrey (Speed Whales), Mc Cigano, Kassius Clay, Sandro(Consciência & Raiz), Mc Ingrid INR e Wymar Santos.

DE LEVE

De Leve: inovando, incomodando e subvertendo o rap nacional!

O rap é um gênero que nasceu subversivo por natureza, através dele inúmeros MCs, DJs e seus grupos protestam, discursam e passam suas mensagens. De chinelo e bermuda florida, em 2000 à frente do Quinto Andar, o niteroiense Ramon Moreno de Freitas, conhecido como De Leve, deu um jeito de subverter o estilo.

As diferenças não eram gritantes só visualmente, também musicalmente falando, visto que o caminho escolhido ia na direção oposta às das rimas sisudas predominantes no cenário hip hop nacional. A criatividade e a ironia o levavam a um lugar de destaque, o fazendo romper fronteiras e – com o advento da internet – ir parar nos quatro cantos do país.

Sempre trabalhando de forma independente e produzindo seus trabalhos (ou com a ajuda dos amigos), De Leve lançou no segundo semestre de 2001 o EP “Introduzindo: De Leve” (Tomba Records). Na capa havia um carimbo avisando o conteúdo de suas sete músicas: “deboche explícito”. Fugir dos chavões e clichês lhe rendeu destaque tanto na grande, quanto na mídia especializada; o pontapé para a discórdia havia sido dado. Como tudo que é novidade e/ou diferente, houve quem amou ou odiou, definitivamente a indiferença passou longe.

Em 2003, De Leve assumiu de vez a postura de contestação em relação ao rap e soltou “Estilo Foda-se”, o EP é sinônimo de subversão, mas, acima de tudo, inovação. Mais uma vez lançado pela Tomba, com a mãozinha de DJ Castro e Bruno Marcus assinando a produção, a evolução foi mútua.

O trabalho abriu ainda mais portas ao rapper, acabou saindo em CD – com o anterior como bônus – pelo selo Segundo Mundo, de Dudu Marote, e rendeu passagens por programas de TV (Rede Globo, MTV, TVE, RedeTV), participação em trilhas sonoras (do seriado “Cidade dos Homens” e do quadro Mercadão de Sucessos, no Fantástico, ambos da Globo, do filme “Ódiquê”), apresentação no TIM Festival e participação em diversas coletâneas. Artistas como Caetano Veloso e Los Hermanos não lhe pouparam elogios, assim como alfinetadas foram trocadas com Marcelo D2, rendendo citações em músicas dos dois lados.

Não por menos, em 2006, De Leve o “homenageou” intitulando seu CD como “Manifesto ½ 171”, um de seus mais variados álbuns. Produzido por ele e Bruno Marcus (guitarra, teclado e cavaco), co-produzido, mixado e masterizado por Plínio Profeta, o trabalho tem tudo aquilo que circunda seu repertório, ou seja, ironia, ginga e belas rimas e sacadas; além de uma carga recheada de rap, funk, dub, eletrônico e ragga.

Em 2007, De Leve se juntou a Flu (ex-De Falla) e Luciano Granja (ex-Engenheiros do Hawaii) para formar o Leme. No projeto, o rapper usa sua voz de forma diferente, explorando mais as melodias que as rimas. Em 2008, o trio fez alguns shows pelo Rio de Janeiro e Sul do país e em janeiro de 2009 uma bombástica apresentação na Campus Party, em São Paulo (SP).

Sua versatilidade já lhe rendeu inúmeras parcerias – ao vivo ou em gravações – com nomes como KLJay (DJ do Racionais MCs), Instituto, Veiga e Salazar, Xis, João Brasil, B.Negão, A Filial, Black Alien, Nervoso, entre outros. À convite de Dado Villa-Lobos, diretor musical do filme “Os Porralokinhas” (Globo Filmes), gravou a música tema com Paula Toller (Kid Abelha).

Eis que chega abril de 2009 e o niteroiense exterioriza oficialmente seu personagem “De Love”. A princípio, como sempre fez, disponibilizou canções do projeto gratuitamente na internet – vale dizer que todos outros trabalhos estão na rede.

Depois de uma junção entre De Leve, Ideal Records (um dos selos que mais têm inovado no independente nacional) e CemporcentoSKATE (a revista de skate mais consolidada do país), o disco chega, por R$ 6, 90, às bancas de todo o Brasil encartado nos 35 mil exemplares.

Ao todo são 11 faixas, sendo que duas já são hits de seu pseudônimo Caramujo Sonolento (“Quem Disse Que Caramujo Não Tem Coração?” e a clássica “A Lenda”, que com justiça agora chegam a CD), cinco já podiam ser ouvidas na internet e quatro inéditas.

“De Love” é, sim, um álbum de amor, mas acima de tudo de um sentimento que brinda à liberdade; seja de misturar, inovar, experimentar... O rapper adotou propositadamente um visual cafajeste satírico, num misto de crooner de churrascaria com rapstar gringo ostentador de jóias e dono de péssimo gosto. A cara de pau e o discurso, hoje, tido como politicamente incorreto aparecem nas agitadas “O Quê Que Nego Quer” e “Elas São Sinistras”.

Na abertura a tropical “Sempre A Caminhar” mostra uma brasilidade rítmica e na variação de entidades religiosas citadas. Um acento regional chega através do paraibano Totonho (sim aquele “d’os Cabra”!) na deliciosa “Pra Ser Filiz”, cheia de contraste de sotaques, batidas fortes, sopros e cavaco.

Ah, o amor, já que batizou o disco, aparece aqui e ali, não de forma piegas, mas como trocas de palavras (birras ou elogios) do dia-a-dia: o reflexo da rotina de “O Quê Que Você Conta?” e a suave “Quero-te Bem”.

O rap norteamericano pode ser constatado ao longo do disco através de batidas que reverenciam a Velha Guarda ou ainda no esculacho no uso exagerado do Auto-Tune tão em voga com os astros de hoje na reggaeton “Minha Maluca”.

Não só a ironia é presença tradicional nas letras de De Leve, a acidez cutuca e reflete a realidade, como em “Dinhêro” e “Quer Dançar?” (a única que o rapper não assina a produção, e sim Voltair, a mixagem e a masterização são de Bruno Marcus).

Com suas batidas dançantes, tiradas inteligentes e sarcasmo afiado, De Leve vai conquistando seu espaço, inovando, incomodando e subvertendo o rap nacional. Não gostou? Os incomodados (e retrógrados) que se mudem!

Ricardo Tibiu
Março/2009

DUBKILLA

Desde 1996, direto da cidade de Santos, Mauro Mariano e seus comparsas musicais usam da necessidade de mostrar outra sonoridade além do reggae tradicional. É um projeto de estúdio que adciona, subtrai e mescla instrumentos com efeitos de eco, reverbes e fazem uma colagem sonora de inúmeras fontes musicais. Tido como um dos primeiros a usar o DUB como estilo musical na Brasil.

DJ Lufer

Natural de Santos, nascido e criado no famoso bairro da Vila Belmiro (templo do futebol), desde sempre a mistura fez parte da sua vida. Pai de origem africana e a mãe filha de portugueses, determinaram desde pequeno que o barato era misturar. Nas reuniões familiares, o samba e a brasilidade enriqueceram sua mente com os batuques e as letras que retratavem o cotidiano e as crendices populares. Com esse exemplo em sua própria casa, aprendeu a respeitar e entender a pluralidade no mundo. "Hoje agradeço a Deus por ser filho de uma mistura maravilhosa e poder trazer isso para o que hoje, eu mais amo fazer... TOCAR MÚSICA DE TODO O MUNDO E VER O POVO DANÇAR". Brasilidade, Latinidade, Balkan Beats, Rare Grooves, Dub, Soul, enfim todos os beats do mundo fazem parte de seu inusitado set. Gosta de surpreender ao público com as loucas batidas do pancadão global, por isso é chamado também de Beat Loco.
Atualmente produz em Santos a festa mensal FUTURAFRICA, e junto com um coletivo de artistas locais faz um sound system de arrebentar o quarteirão.

DJ Beto Machado

DJ da renomada Radiola Santa Rosa (Guarujá), Betinho, como é chamado na intimidade, é conhecido pela técnica do Turntablismo. Domina o scratch,e utiliza de várias fontes musicais para produzir um set dançante e cheio de experimentações. Nos pratos, usa e abusa de sonoridades da vanguada do rap, do old school, passando pelo Tropicalismo, Psicodelia tupiniquim, e fortes pedradas do Dub e Soul.

Quanto? R$20 Quando? 23/08, às 22:00 Onde? NetBar Av. Mal. Floriano Peixoto 302 - Maiores informações: 3225-2939

quinta-feira, agosto 20, 2009

Depois do cinema

Todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreve crônicas sobre a cidade pra Action. Depois de um período de férias, o cara tá de volta. Hoje, sua décima quarta crônica.

Enquanto eu andava devagar, ainda pensando no filme, via que alguém se aproximava. Aproximava-se de um jeito um pouco assustador. Andava no mesmo ritmo que eu. Tentava ir mais rápido para não ter que andar do seu lado, mas ela acompanhava o meu passo. Fazia frio e resolvi colocar o capuz do meu casaco. Ela fez o mesmo. Era uma menina, mas não conseguia ver o seu rosto – provavelmente por causa do capuz. Quando pensei em atravessar a rua e acabar de vez com isso, ela olhou para mim e perguntou:

- Você estava no cinema sozinho?

- Tava.

- E o que leva um menino a ir sozinho no cinema?

- Não sei. Eu gosto de ver filmes. Você também estava sozinha no cinema?

- Estava.

- E o que leva uma menina a ir sozinha no cinema?

- Não sei também.

- Pois é. Eu gosto muito de ir ao cinema. E não é sempre que dá pra arrumar companhia.

- Você estava em que filme?

- Almoço em Agosto.

- Ah, eu li umas críticas boas sobre este filme.

- É. Eu gostei. É engraçado. E você? Foi ver o quê?

- Tinha Que Ser Você.

- Legal. Eu vi esse já. Gostei bastante.

- É. Eu também.

- Só.

- É que não é muito normal ir sozinho ao cinema. Pelo menos minha mãe acha estranho. Meus amigos...

- É. Normal acharem estranho.

- Pois é. Eu tenho que passar por isso o tempo inteiro.

- Bom, eu viro aqui.

- E eu sigo reto.

- Tudo bem. Como é o seu nome?

- Sara e o seu?

- Roberto.

- Prazer. Talvez a gente se encontre no cinema.

- É. Tchau.

- Tchau.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Daggering+LSD: Major Lazer lança clipe novo

Jamaicano, atual residente de Trinidad, ex-commando na guerra secreta contra os zumbis de 1984, onde perdeu o braço. Luta contra vampiros, tem um skate a jato e festeja duramente. Tem seu próprio bonequinho e faz Mr T querer ser ele quando crescer. Guns don't kill people. Lazer do. Conheça seu pior pesadelo: Major Lazer.

Lançado dia 4, o clipe novo do cara já conta com mais de 200 mil view entre YouTube e Vimeo. Dirigido por Eric Wareheim, do desenho Tim and Eric, do Adult Swim, edição e animação dos videomakers da Fatal Farm com os gráficos do Will Work For Food, parece que os Teletubbies descobriram a sacanagem. Gráficos coloridos com caribenhos fazendo danças conhecidas no cenário jamaicano atual, a lá Dancehall Queen, criam um clipe absolutamente novo em conceito e concepção. Como curiosidade, a dança feita no clipe é a Daggering, banida na Jamaica porque "muitos caras quebraram seus pênis", segundo o governo jamaicano. Haja comprometimento com o ritmo.

Di people bee ind Lazer


Obviamente, Lazer não existe. Um fenômeno de bom marketing, o personagem foi criado pelos DJs Diplo e Switch. O estilo é o mais diverso possível. Puxando pro Caribe moderno, com levadas de Dancehall em boa parte das tracks, eles colocam um número incrível de referências nos samples - tem até um loop de Black Flag! Sendo remixados nos últimos dois anos por uma caralhada de mashers e DJs, nas produções próprias aparecem caras como Vegas, T.O.K e Vybz Kartel, medalhões do ragga atual. Isso tudo sem contar o gordinho fenômeno Andy Milonakis e a talentosa Santigold participando da mistura.

Switch e Diplo se conheceram enquanto faziam a produção das músicas Bucky Done Gun e Pull Up The People, da M.I.A. Gravaram a maioria dos álbuns do Major no mítico estúdio da Tuff Gong, sendo que foram inspirados na cena de clubs de Kingston. "Os DJs lá precisam tocar tracks ruins no fim da noite só pro pessoal ir embora", contaram pro The Vine.


R. Darci

Post semi roubado do blog do Tas. Desnecessário dizer que o blog do cara é um dos mais interessantes da atual blogosfera. Afinal de contas, ele foi o motherfucking Telekid, nada chega perto disso. Só um jamaicano que luta contra zumbis.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Deitado no beliche

Todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreve crônicas sobre a cidade pra Action. Depois de um período de férias, o cara tá de volta. Hoje, sua décima terceira crônica.

Um novo dia entrava pela janela e me acordava deitado em cima daquele beliche. Na verdade não era a luz que me acordava, mas o barulho que vinha lá de fora. Música, coros, tambores. O que era aquilo? Estava em um país estranho. Um lugar diferente. Será que aquilo era normal lá?

Não conseguia me levantar para ver. Meu corpo não deixava. O que tinha acontecido na noite passada? Não lembrava direito. Lembrava apenas do frio de puta madre.

Provavelmente estava de ressaca e por isso não conseguia me mover.

- Marcos, dá pra você pegar minha água?

Precisava tomar algo antes de me movimentar.

Desci a escada do beliche com cuidado e fui para a pequena sacada do quarto. Na rua, uma multidão se apertava, soltando fogos, cantando gritos de guerra, batendo tambores e carregando bandeiras azuis e brancas.

Estavam pedindo emprego. Era uma marcha de operários. Várias. Quando uma acabava, começava outra. Precisava ver aquilo de perto. Mesmo mal, desci os quatro andares com a minha câmera.

Algumas pessoas carregavam pedaços de pau, mas as marchas eram pacificas. A polícia ficava do lado, mas sem fazer nada. Os restaurantes mostravam os protestos ao vivo na tevê. O frio da noite anterior continuava. E a ressaca não passava. Provavelmente estava doente, com gripe, sei lá. Preferia não pensar naquilo. Preferia entrar no meio da multidão. Apoiar aquilo de alguma forma.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

quarta-feira, agosto 12, 2009

Mais impressão oldschool na fita!

Depois de termos falado da Gráfica Fidalga aqui na Action, nós batemos com outro vídeo semelhante. Bem, nem tanto. O ótimo blog Design com Limão postou um vídeo bacana com o designer Mike Burton produzindo seus posters em uma impressora com tipos móveis. Não é tão antiga quanto da gráfica paulistana, mas é tão legal quanto. Assistam que vale a pena:


terça-feira, agosto 11, 2009

A vila do Soul: O museu da Stax Records

Há cerca de alguns meses nós contribuimos a Agenciau com uma coluna semanal. Existem algumas verdadeiras pérolas por lá e, por isso, e pelo fato de termos preguiça de escrever coisas novas, estamos revivendo as melhores matérias de lá. Algumas já foram postadas aqui, e quando rola vontade, postamos por aqui.


A Stax Records completou 52 anos neste ano e desde 2003 conta com um museu completíssimo, em Memphis, meca absoluta do Southern Soul, para muitos, o verdadeiro Soul. A forte influência da música country sulista somada com as diretrizes únicas da Stax, tornaram-a ainda mais mítica e cultuada entre os fãs.

Depois da label falir em 1976 e o espaço ser vendido a uma Igreja, a sede chegou até a servir de cozinha aos tradicionais pratos de sopa servidos para os pobres da região. O lugar foi revitalizado, quando em 1989, um grupo de anônimos e fãs da gravadora fundaram uma organização para revitalizar a área, patrimônio cultural não só da região, como do mundo todo.

A construção demorou mais de dez anos para ser iniciada, sendo que apenas em 2003 o museu estava de pé. O projeto final é uma réplica do estúdio original, o antigo Capitol Theatre, e tem em seus 17.000 m² , grande parte do material da gravadora, entre fotos, vídeos, filmes, roupas, e muita coisa que você ficaria espantado em saber como foi conseguido. Vale lembrar, que, um dos grandes incentivadores do museu, o saudoso Isaac Hayes, foi um dos baluartes do projeto e cedeu muito material bacana, como seu antigo Cadillac El Dorado de 72, o wishlist supremo da época.

Um lado legal do Museu é o espaço dado à artistas e outras gravadoras, como a rival Motown, a antiga parceira Atlantic Records e a jóia Muscle Shoals. Foda demais. Isso sem contar o espaço reservado aos artistas que não gravaram pela Stax, mas que também são importantíssimos, como Stevie Wonder, Marvin Gaye, Sam Cooke, etc. A grande sacada do museu, aliás, é essa preocupação de não ser apenas um lugar auto contemplativo, mas um lugar pra se conhecer melhor a música americana como um todo.

No prédio anexo ao museu, ainda existe a Stax Music Academy, uma escola de música e talvez o melhor lugar pra se aprender música em todo os EUA. E pra completar o complexo, ainda existe a Soulsville Charter School, onde os alunos tem matérias tradicionais do currículo escolar, como, Matemática e Artes.

Pra quem tem grana de ir pra lá ou está lendo a matéria e mora por perto, você precisa ir. Grande parte da história da música negra contemporânea mundial está disponível por $12 nesse grande complexo. Se você não tem mesmo como visitar, no site do museu existe a possibilidade de uma visita online, além de uma lojinha com todos os apetrechos de um verdadeiro fã dessa sensacional gravadora.

Detalhe pro Cadillac do Isaac Hayes. O cara tinha bom gosto haha.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Viva Cuba! A era de ouro da arte na ilha



O leitor que frequenta a Action deve ter diversos motivos para nos acompanhar. Curte as matérias de música negra, as crônicas dos colaboradores, tem tara por gordos ou gosta dos cartazes que a gente produz. Pois bem, a arte cubana, mais especificamente a pós revolução, é uma das grandes influências do coletivo e é dela que falaremos hoje.

Depois da ascenção de Fidel Castro ao governo cubano, todas as agências publicitárias da ilha foram nacionalizadas. Os donos, putos, sairam do país em busca de outras oportunidades. O restante ficou no país e teve que encarar uma realidade totalmente diferente da que eles viviam. Ou seja, trampar com caras do governo e produzir para eles.

Com isso, surgiram dois grupos de criação para executar as tarefas. O primeiro, chamado de Consolidado de Publicidad, cuidaria somente dos contratos de publicidade que existiram até 1961. Já o Agencia Intercomunicaciones se encarregou de cuidar de todos os orgãos do governo, de ministérios à empresas.

Como todo momento de transição, o número de fechamentos, fusões, fundações é absurdo e confuso. Mesmo assim, temos que ressaltar também a criação de outros três importantíssimos orgãos que fomentariam a produção artística cubana nos anos seguintes: O Instituto Cubano del Arte, a Industria Cinematográficos(ICAIC) e a Casa de Las Américas. Cada orgão teve artístas e produções específicas, de revistas a cartazes impressos em serígrafia.

A demanda de trabalho era grande e no caso dos cartazes, os artistas chegavam a produzir um por semana. Com essa urgência, os caras tiveram que adotar soluções eficientes. Talvez aí uma das grandes razões do estilo próprio que foram desenvolvendo ao longo do tempo.

O ritmo de produção era insano e o número de artístas era grande. Tanto que seria cansativo mencionar todos sem cometer alguma puta injustiça. Ainda mais com a fundação de mais outro orgão do governo, o Consejo Nacional de Cultura(CNC). Este também tinha uma equipe invejável e as criações eram basicamente voltadas para eventos e instituições culturais, além de ilustrações para revistas.

Os cartazes cinematográficos do ICAIC foram com certeza os mais marcantes. Não eram só meras peças impressas em serigrafia retratando os filmes produzidos dentro ou fora da ilha. Eram o reflexo de uma geração jovem, com ânsia de realização dentro de um panorama de mudanças e sonhos de uma vida mais justa. Daí o numero de cartazes experimentais e de vanguarda.

O intercâmbio promovido com professores e artistas poloneses - outro país com uma produção fodida de cartazes- serviu de aprendizado e reconhecimento para os artistas da ilha. Um exemplo da quantidade e qualidade desta produção foi a exposição organizada pelo Instituto Cinematográficos(ICAIC) em 1979. Na data comemorativa dos vinte anos de sua fundação, mais de mil cartazes de cinema foram exibidos. Um número espantoso de trabalhos realizados.

O reconhecimento no mundo, felizmente, já viera anos atrás, quando os trabalhos dos artistas cubanos fizeram parte de exposições mundiais como a de Montreal e a de Osaka. Ambas no final da década de 60. No repertório das exposições, os belos cartazes de cinema, eventos culturais e propagandistas.

Esse ambiente fértil para as criações durou cerca de dez anos. Com o fim dos regimes comunistas europeus na década de 90, o apoio financeiro diminuiu e a produção e a qualidade também. É raríssimo você encontrar algum trabalho que se equipare aos anos 60 e 70. Creio que dificilmente os cubanos conseguirão chegar a um nivel tão alto de qualidade como antes.

Pelo menos, de uns tempos pra cá, a divulgação desse fértil período aumentou novamente, tanto em Cuba como em outros países. Aliás, um dos grandes motivos de termos escrito essa matéria, é a exposição sobre o assunto que está rolando em São Paulo. Quisemos motivar vocês a irem ver, vale muitíssimo a pena.


Abaixo, deixamos os dados da expo:

Exposição de Cartazes Cubanos:

Data: de 5 de agosto a 13 de setembro
Local: Caixa Cultural - Praça da Sé, 111, Galeria Betetto
Horário: 9 às 21. Recomendação etária: Livre. Entrada: Grátis
Informações: (11) 3103-5723
http://www.caixacultural.com.br

sábado, agosto 08, 2009

O Soulman dos corações despedaçados

Quem é que nunca sofreu por amor? A máxima de que o amor e a música andam juntos é verdadeira, o maior exemplo disso é a lenda viva Smokey Robinson. O rei do quiet storm nos presenteou com dezenas de magistrais canções, com arranjos suaves e letras sobre sentimentos correspondidos e desilusões amorosas.

O cantor/compositor/producer nascido em Detroit tem sua história intrísicamente ligada com a Motown. Sua amizade com o fundador da label tinha começado antes mesmo da criação da gravadora, através dos Miracles, com Gordy colaborando na composição de um dos maiores sucessos do grupo, Got a Job.

Após a fundação da Tamla que depois virou Tamla Motown, Robinson se tornou um dos principais artistas e vice presidente da gravadora de Detroit. Seu talento único em compor hits como Shop Around e a longa amizade com Gordy facilitaram a escolha do chairman.

A década de ouro do Soul e auge da carreira de Smokey tiveram nada mais nada menos do que 22 tracks compostas por ele entre as paradas de sucesso americanas e britânicas. Coisa de gênio. Alternando entre composições para outros artistas e canções com os Miracles, Smokey Robinson também produziu artistas do naipe de Temptations e a belíssima Mary Wells.

Após sair dos Miracles no começo da década de 70, Smokey se concentrou na família e nas suas obrigações de vice presidente de label. A parceria com o grupo ainda lançou sucessos como Tears of a Clown e Baby e Baby don't cry, culminando com uma lendária apresentação no Carter Barron Amphitheater, em Washington.

Com o fim da década de 70, o soulman embarcou em carreira solo. Ainda como presidente da Motown, lançou um disco no ano seguinte da saída dos Miracles. Seu primeiro single solo, aliás, foi dedicado aos antigos companheiros de grupo.

O título de rei do quiet storm viria em 1976 com o single homônimo. A partir daí, as canções ficariam cada vez mais smooth, uma prova disso é o belo dueto com Rick James no comecinho dos anos 80. Ebony Eyes ganhou até um clipe, com o soulman fazendo papel de co-piloto de James em um avião que se acidenta devido a um temporal. O estilão 80's com aquele bigodinho inconfundível virou marca registrada de Smokey naquela década.

No meio dos anos 80, o vício de cocaína, as poucas composições e o fim de um casamento de muitos anos quase acabaram com sua carreira. A presença de amigos e a religião ajudaram a recuperação, chegando a ganhar um grammy com a bonita Just to See her. Com a venda da Motown, acabou renunciando sua posição de vice presidente, tendo voltado a gravar algo pela label só anos depois, esta já subsidiária dos gigantes da Universal.

O ritmo alucinante de composições e hits nunca mais foram os de outrora, mas Smokey conserva um respeito fodido no mundo inteiro. Um exemplo é que foi um dos poucos que falaram no velório de Michael Jackson, e talvez o único que falou algo bacana sobre o rei do pop. Robinson na época se assustou com o potencial do moleque, ainda pequeno, cantando um de seus sucessos. Além de gênio, o cara ainda continua humilde pra caralho.

Pra terminar a matéria, algumas tracks do cara que mostram o lado mais smooth da soul music:





terça-feira, agosto 04, 2009

O lado black de Madchester

Há cerca de alguns meses nós contribuimos a Agenciau com uma coluna semanal. Existem algumas verdadeiras pérolas por lá e, por isso, e pelo fato de termos preguiça de escrever coisas novas, estamos revivendo as melhores matérias de lá. Algumas já foram postadas aqui, e quando rola vontade, postamos por aqui.

Muita gente deve se perguntar porque falamos de Madchester se somos um coletivo que fala de música negra. Madchester foi muito influenciada pelas primeiras festas de Soul Music na década de 60 e 70. Fora que os próprios pertencentes à cena tocaram música com pegada de funk, soul, rap, reggae e house.

No post de hoje, roubando o formato do nosso tradicional Mama Afrika, vamos lançar alguns sons que mostram o lado mais groove da cena.

Happy Mondays - Bob's Yer Uncle (12'mix)



Eu não quero ser bronha falando desse som do Happy Mondays que abre o post. Primeiro porque acho que os próprios me zoariam pra cacete. Bob’s Yer Uncle é mó música pra putaria, mas caberia nas pistas, com certeza. Aquela batida tradicional do Happy Mondays com uma aura de Acid Jazz com um vocal quase que hipnotizante do Shaun Ryder.

Marcel King - Reach For Love



Marcel King tem uma história curta e triste. Fez parte de uma banda de Philly Soul de Manchester chamada Sweet Sensation. Nunca fizeram o sucesso esperado, e muito tempo depois, já em carreira solo, a música Reach For Love foi produzida em parceria com Bernard Summer do New Order e lançada pela Factory.

Aliás, esse single é o favorito do Shaun Ryder, vocal do Happy Mondays. Um soul com uma pegada 80’s e até meio brega, mas linda. No clipe, uma pá de dançarino fazendo vários passos legais no lendário Haçienda. Marcel King tempos depois morreria de um tumor no cérebro, bem jovem.

X-Odus - English Black Boys



X-Odus foi outro single obscuro lançado pela Factory. É um reggae soturno pra cacete, bem a cara de Manchester. Lembra a fase roots do Dennis Brown, só que feito por moleques britânicos que depois sumiram do mapa, não lançando mais nada relevante.

808 State - Pacific State



Muita gente que fala de Madchester, Factory, acha que foi uma cena pós punk. Peraí. Não podemos esquecer o background dos músicos e o que a cena toda se tornou com a ascensão do New Order: Música eletrônica, mais especificamente House. Não podia deixar de postar esse puta clássico do 808 State: Pacific State. Um House de quando o ritmo era uma cena interessantíssima, que fazia questão de evidenciar suas influências da música negra.

Primal Scream - Come Together



Pra terminar, o Primal Scream tocando um dos seus maiores hits, Come Together, do lendário disco Scremadelica. Acid House misturado com Gospel. Puta que pariu, quer mais?

sábado, agosto 01, 2009

Seja um Malevich

Sempre tem alguém em alguma parte do mundo com uma idéia foda. Daquelas que fazem você parar para pensar: "como não tive essa idéia antes?". Pior é quando a idéia tem a ver com algo que você é completamente fascinado. Em um primeiro momento você fica puto, mas depois comemora por alguém ter posto ela em prática. Bem, o assunto de hoje é uma dessas idéias.

O empresário espanhol Xavier Vidal, depois de viver quatro anos em Moscou, se impressionou com uma gravura suprematista do artista Kazimir Malevich exposta em um Museu local. O impacto foi tão grande que, ao voltar para sua cidade natal, Barcelona, Xavier criou o jogo Be a Malevich.

Be a Malevich foi inspirado nos Architectons, uma série de blocos brancos de cerâmica criados por Malevich que viravam grandes construções. Entre tamanhos variados, as peças maiores possuiam superfícies vazadas, permitindo o encaixe das peças menores. Os Architectons eram uma aplicação do Suprematismo, movimento criado pelo artista soviético e que tinha na formas geométricas e no conceito da "supremacia do sentimento puro ou percepção nas artes pictoricas/graficas", seu mote.

Segundo Xavier, "Be a Malevich significa ser criativo, romper barreiras, ser você mesmo. o jogo também tem algo de arquiteto que nunca fui e nunca serei." Baseado no modelo Alpha dos Architectons, possui as peças em tamanho original como as do artista soviético, e vem em dois modelos. O primeiro, com 19 peças, custa a bagatela de €55, enquanto o de 27 blocos, é conseguido por €65. Um preço meio salgado, mas pensando pela qualidade do material e o custo de produção, o valor é justo.

O site do Be a Malevich é bem bacana. Além das fotos do produto, rola informações sobre os Architectons originais e bibliografia sobre o artista. Há também a possibilidade de comprar o jogo direto do site. O ruim é que o valor é cobrado em Euros. Fica a nossa torcida de encontrar o produto em locais que vendam em dólares.

Malevich, o suprematista

Malevich foi um dos grandes artistas gráficos do século XX. Influenciado pelo cubismo e pelas antigas gravuras russas, criou o Suprematismo, movimento inspirado na imagem de um quadrado preto sobrepondo um piso branco. "eu sentia apenas a noite em mim e então eu concebi a nova arte, que chamei de suprematismo".

O cara, como todo artista soviético, era multimídia. Foi professor, pesquisador e participou de diversas exposições. Junto com Kandinsky e Mondrian, é reconhecido como um dos grandes mestres da arte não figurativa. No início de carreira chegou a criar cenários para uma ópera futurista. O artista soviético e de origem ucraniana também tinha fascinação pela fotografia aérea, o que inspirou toda a concepção dos Architectons.

Infelizmente, sofreu fortes críticas da imprensa e do governo soviético que o acusavam de subjetivista. Por ter uma concepção diferente da arte pura x arte aplicada, também ganhou a inimizade dos construtivistas. Chegou a ser preso e torturado, morrendo abandonado e na pobreza em São Petesburgo, em 1935.

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