A Motown com certeza é o maior exemplo de como a música negra transcendeu os pequenos guetos e atingiu um sucesso inimaginável. Era difícil imaginar que nos anos 60, negros poderiam entrar nas paradas musicais e lotar casas de shows. O racismo forte, a segregação racial, a separação entre clubes para brancos e os para negros. Tudo isso contribuia para uma hipocrisia fodida. Enquanto alguns negros faziam um trampo sofisticado e classudo, vendendo disco pra caralho, alguns brancos barravam os próprios negros de assistirem aos patrícios.Contudo, a situação da pós guerra começava a mudar esse cenário, com uma abertura maior para o negro. Nos anos 50 iniciava um processo que era uma verdadeira façanha a um
caminho mais igualitário com a música como ponta de lança, graças a Ray Charles, Chuck Berry, Nat King Cole e outros, mas faltava um empurrão definitivo. Em Detroit, cidade nortista americana famosa por suas fábricas de carro, a famosa Motor Town, um empresário negro, Berry Gordy Jr, funda a Motown, em 1959.O selo, que hoje em dia foi absorvido pelo grupo da Universal Music completa 50 anos em 2009 e vem recebendo muitas homenagens. É uma pena que no Brasil, pouca gente dê a importância devida para a Motown e isso vem de muito tempo atrás. Quando o "Motown Sound" estava no seu auge nos EUA e em outros lugares do mundo, o Brasil ainda vivia sua fase da Jovem Guarda, e quando os músicos do nosso país assimilaram a música negra em seus son
s, o Soul já estava mais funkeado, quase partindo pra Disco Music. Não vamos partir para um argumento 'sempre fomos atrasados', ou qualquer coisa do tipo. O que aconteceu foi que a 'fase black' brasileira demorou um pouco a chegar, com nossos grandes soulmen estourando depois.Seria muito legal se os músicos atuais fossem correr atrás das letras do trio de ouro da Motown, Holland-Dozier-Holland, o baixo hipnotizante do James Jamerson e da bateria de Richard Allen e Clifford Mack, ao contrário da grande sombra na qual muitos vivem hoje de chupinharem um som pausterizado sem alma que hoje infelizmente presenciamos por aí. Alguém pode vir e falar que o rap comercial atual é superlegalzão, tem até G-Unit sampleando Cartola. Puta tristeza, colocaram o trecho onde ele canta 'Deixe-me ir/preciso andar/Vou por aí a procu
rar' no começo de uma música com Movado, músico jamaicano, enquanto a mídia especializada daqui masturba o Don Cannon, o cara que teve a idéia de colocá-la na track. Até a referência bacana, quando usada, é de maneira pobre.A música negra só é o que é hoje, mercado e sonoramente falando, graças a Motown. É fato que se você perguntar pra toda a molecada que faz sucesso atualmente, os caras tem inspiração nesse pessoal. Será? A qualidade do som feita hoje em dia é bem discutível, mas as influências estão lá. Muitos podem questionar esse texto perguntando do pessoal da Stax, da Atlantic Records, dos artistas da Filadélfia e de Chicago. Claramente importantíssimos, todos conseguiram dar sua visão musical pro Soul, mas é inegável que foi a Motown que conseguiu fazer o pessoal ser olhado com mais atenção e com mais respeito.
De qualquer modo, brindamos à Motown e a cada uma de suas estrelas que ajudaram a erguer o negro através de talento e empenho.
R. Darci e Morone
EDIT:
Putz, o DJ Benjamin Ferreira, do Boogie Central, nos deixou um comentário na caixa que adicionou umas infos legais e, até pra não se perder, o transcrito veio pro artigo principal:
"Embora a trajetória de Berry Gordy e a Motown tenha sido um tanto controversa e muitos defendam que o chefão era bastante envolvido com a máfia, isso não diminui em nada a virtuosidade de todos os envolvidos com a Motown durante todos esses anos. Mesmo com as vendas em baixa, entraram pela era disco e pelos anos 80 fazendo e entregando muita música boa.
No Brasil, infelizmente, amargaram anos de distribuição capenga - acho que os discos da Motown começaram a chegar pela Tapecar, gravadora bem pequena. Depois foram pra Top Tape, que melhorou um pouco o esquema de distribuição, lançando inclusive alguns 12inch singles, o que pros DJs brasileiros da segunda metade dos anos 70 significava muito!
No entanto, a coisa só se propagou mesmo quando o catálogo da Motown começou a ser lançado pela RCA, mas aí já estamos falando de fins dos anos 70/início dos 80. Motown no Brasil foi da RCA até 1989, quando a Universal comprou todos os direitos.
Há algum tempo eu coloquei no Discogs algumas infos e fotos de alguns releases da Motown no Brasil pela Tapecar e Top Tape.
http://www.discogs.com/label/Tapecar
http://www.discogs.com/label/Top+Tape
Valeu!











Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBela matéria!
ResponderExcluirEmbora a trajetória de Berry Gordy e a Motown tenha sido um tanto controversa e muitos defendam que o chefão era bastante envolvido com a máfia, isso não diminui em nada a virtuosidade de todos os envolvidos com a Motown durante todos esses anos. Mesmo com as vendas em baixa, entraram pela era disco e pelos anos 80 fazendo e entregando muita música boa.
No Brasil, infelizmente, amargaram anos de distribuição capenga - acho que os discos da Motown começaram a chegar pela Tapecar, gravadora bem pequena. Depois foram pra Top Tape, que melhorou um pouco o esquema de distribuição, lançando inclusive alguns 12inch singles, o que pros DJs brasileiros da segunda metade dos anos 70 significava muito!
No entanto, a coisa só se propagou mesmo quando o catálogo da Motown começou a ser lançado pela RCA, mas aí já estamos falando de fins dos anos 70/início dos 80. Motown no Brasil foi da RCA até 1989, quando a Universal comprou todos os direitos.
Há algum tempo eu coloquei no Discogs algumas infos e fotos de alguns releases da Motown no Brasil pela Tapecar e Top Tape.
http://www.discogs.com/label/Tapecar
http://www.discogs.com/label/Top+Tape
Benjamim, primeiramente cara, obrigado pelo elogio.
ResponderExcluirLegal pra cacete sua colaboração, passando essas infos à respeito da distribuição dos discos aqui no Brasil.
A distribuição das coisas da Stax/Atlantic foi melhor do que a Motown por aqui, né?
Abraço
Poxa, fiquei honrado que vcs tenham gostado do texto e incluído no artigo principal! :-)
ResponderExcluirA Stax, se não me engano, também saía aqui pela Top Tape, assim como o CTI. Quanto à Atlantic, começou pela Continental, que depois virou WEA/Warner. A qualidade geralmente era sofrível, mas só por ter os discos já vale a pena.
Abraços e parabéns pelo blog - já virei fã!
(A qualidade da qual eu falo era do vinil, e não do que era gravado nele, claro! hahahaha! É o que dá escrever às 3 da manhã :P)
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