sexta-feira, julho 17, 2009

O que é meu não é seu – mas pode ser

Tudo que é bom é inesperado. Acontece que a Action ganhou um colaborador novo. Fã de The The e grande mentiroso, vos apresento a coluna de Leonardo Marques. Toda sexta-feira na Action. Hoje, a sétima edição:

O primeiro livro que me causou angústia foi 1933 foi um ano ruim, do escritor norte-americano John Fante. A primeira música que me fez chorar - apesar de ser uma alegria só - foi Penny Lane, dos Beatles. O primeiro filme que me mostrou que a estupidez pode ser genial foi O Balconista, do Kevin Smith.

Basicamente, sou um homem angustiado, emotivo e estúpido. Na real, todo mundo é angustiado, emotivo e estúpido. Só as razões é que diferem. A famigerada particularidade.

Tenho um amigo. O nome dele é Flávio. A mãe o chama de Frávio. Nós o chamamos de Falcão. Falcão nasceu no interior de São Paulo, em Piracicaba. Falcão tirava foto sem camisa, só de cueca e colocava no Orkut. Falcão retocava o rosto cheio de espinhas no Photoshop para não queimar o seu filme com as garotas. Falcão fazia sessões de strip-tease na frente da web can. Falcão sonha em se tornar um ator pornô. Ele diz que o seu pinto mede 21 cm. O ator predileto de Falcão – tirando o mega star da pornografia Rocco Siffredi, que é hour concour – é o ex-lutador de luta livre The Rock.

Vicente nasceu pobre. Desde criança percebeu que preferia os meninos às meninas. A sua mãe era cega. Não porque não sabia de nada. Era cega porque não sabia que o céu era azul. Era cega porque não sabia o que era azul. Era cega porque nunca se viu no espelho. Era, porque se foi. Vicente virou bombeiro. Conheceu o mundo. Tornou-se um grande desenhista. Fez amigos na Itália. Fez amigos na Suécia. Fez amigos na África. Fez amigos em Vicente de Carvalho. Conhece a vida de Carmen Miranda como poucos. Conhece a minha mãe como poucos. Vicente é meu tio. Mas Vicente não é o meu tio de sangue. Embora eu o considere mais meu tio do que qualquer tio que tenha o meu sangue.

Aos nove anos de idade, Pietra ainda não tinha os incisivos centrais. Os dentes da frente. Imagine a Mônica sem a protuberância. Pronto. Pietra parecia uma indiazinha quando pequena. Mas Pietra cresceu rápido. Sempre a última da fila. A gostosona da turma. Pietra tem uma cicatriz na parte de dentro do tornozelo esquerdo. Tudo por culpa de um garoto. Decepção seguida de atropelamento. Duas cirurgias, sete pinos, seis meses engessada e a recompensa de se apaixonar doze anos depois: por mim.

Uns preferem tirar para colocar. Outros preferem fugir para se encontrar. Alguns não percebem que precisam sofrer para se apaixonar: por si mesmo, pela vida ou por alguém. Particularidades.

por Leonardo Marques

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