quarta-feira, julho 08, 2009

A mística da Strata-East


O que seriam dos fãs não fossem as gravadoras? Um conceito bacana de produção, seja pelo estilo tocado, a seleção dos artistas ou até mesmo pela beleza das capas e dos labels de seus discos. Tudo conspira a favor de uma label competente. Uma delas é a Strata-East.

Criada em Nova York em 71, foi a resposta dada pelos músicos Stanley Cowell e Charles Tolliver após a recusa de uma gravadora a lançar seus discos. Estava aí o primeiro indício do Do it Yourself na música, antes mesmo do surgimento do punk. O nome estranho foi inspirado em uma ação feita por alguns contatos de Cowell em Detroit para promover espetáculos pela região, refletindo ainda mais a atitude independente dos caras.

A vontade dos dois músicos negros era dar qualidade na prensagem do vinil junto com liberdade total aos músicos. Com essa garantia dada pelos próprios, já veteranos no Jazz, a vinda de outros artistas à Strata foi imediato. De Clifford Jordan, Pharoah Sanders a Gil Scott-Heron, o catálogo da Strata era amplo, variando do Free Jazz ao Soul.

Com essa diversidade de artistas no catálogo somada à questão mística e espiritual abordada pelos seus lançamentos, a label foi ganhando fãs cativos, sendo marcado pela mistura única de Jazz com música africana e indiana, sem perder o lado Soulful. O sucesso, no entanto, era o de qualquer gravadora independente. Mesmo tendo lançado o debut de Gil Scott-Heron e de outros caras fodidos, eles nunca tiveram o peso de uma como a lendária Blue Note.

Em matéria de lançamentos, há boas e más notícias pra quem busca os discos. Se sua pegada é os original press, tá fodido: é dificilimo achar alguma coisa. O selo Soul-Jazz chegou a comprar os direitos e lançou duas coletâneas há uns anos atrás, que infelizmente já estão fora de catálogo. Ou seja, verdadeiras gemas para os ricaços colecionadores no eBay. Maldito sejam.

Agora, um lado bacana que eu sempre faço questão de mencionar, é o artwork. As capas da Strata-East eram lindas, e tem um processo evolutivo interessante. No início eram simples, usando na maioria das vezes o símbolo da gravadora e fotos, mas, aos poucos, foram ganhando um visual cada vez mais impactante, refletindo o período espiritual e a própria música tocada. Um exemplo disso é um cartaz promocional lançado que continha uma enigmática foto da Esfinge com uma pirâmide de fundo. Ao lado, os dizeres:
"In all beginnings...
a mystical, magic force, What course, what destiny...
determined in time".
Queóps cagaria tijolos ao ver isso.

Infelizmente, essa gracinha já não existe mais, embora seu tosquíssimo site oficial esteja no ar e indique o aniversário recém completado de 38 anos. A esperança é que Cowell e Tolliver voltem a lançar material e a reativem. Se não, ao menos temos sites de fãs e outros tributos - como o nosso aqui, pra lembrarmos dessa bela gravadora de Jazz chamada Strata-East.

R. Darci e Morone

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