quinta-feira, novembro 05, 2009

Abdicando

Todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreve crônicas sobre a cidade pra Action. Depois de um período de férias, o cara tá de volta. Hoje, sua vigésima primeira crônica.

- Eu acho que já fui mais esperançoso em relação ao amor. Afinal, que merda é essa? Nascemos sozinhos. E morremos sozinhos. É uma estupidez enorme acreditar em todos os fucking filmes e canções pop. Quanta idiotice. A culpa dessas babaquices é toda nossa. Por que desistir de se apaixonar por quantos você quiser durante a sua vida? Se você realmente ama alguém, deixe essa pessoa ir embora. Não estrague a vida de uma pessoa por causa de um egoísmo idiota. E por que você ia querer abdicar da sua liberdade? Se eu escrevesse uma música para cada coração que eu já parti, teria mais discos que o Ryan Adams. Para que trocar palavras de carinho? Para que casar? Para trair a mulher com a primeira que aparecer depois? Ter um filho e ficar eternamente preso àquela pessoa que você não conseguia mais olhar na cara? Eu não sou o cara daquela banda que cresceu no culto Children of God, cujo irmão morreu quando era pequeno, pois o culto não acreditava em atendimento médico. Cujo pai foi embora depois. Cuja mãe era forçada a se prostituir “voluntariamente” enquanto eles viviam pelo mundo inteiro. Minha vida é razoavelmente normal. Por que criar o sofrimento? Talvez pra ter sobre o que escrever depois. Só pode ser. Por que enfiar a faca na pele? Pra que ver o sangue jorrar? As drogas e o sexo me levam. Não há pressa. Vamos aproveitar. Por que abdicar daquelas cheiradas nas noites sem sexo – e nas com também? Por que abdicar de ir para a Europa, comer 300 alemãs, 400 belgas e 500 dinamarquesas? Pra que ficar todos os dias enfiando o pau no mesmo lugar, em cima do mesmo colchão, vendo as mesmas quatro paredes? Então isso é o amor. Hahaha. Por que jogar fora todas aquelas garotas que posso encontrar na balada? Encontrar no bar? Encontrar enquanto eu vomito no banheiro feminino e ela me levanta de sua privada, pergunta se eu estou bem, me leva pra casa e me fode? Não sou repugnante. Posso conseguir isso com facilidade. Sou como todos os outros. O amor é isso. Inevitavelmente ficarei entediado. So fucking bored. E aí vou fazer ela se machucar. Como foi com todas as outras. Usou, joga fora. Chupou, acabou. Pode ir embora. Vou ler um livro. Por que abdicar de todos esses corpos me esperando? Desistir de todos esses peitos durinhos, essas bocas molhadas, essas ancas? Até agora não sei o que é isso de amor. E o que será que é isso que eu estou perdendo? Estou para encontrar alguém que me mostre. Eu acho que ninguém vai entender isso.

- Eu entendi.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

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