terça-feira, outubro 13, 2009

Brit Funk

Depois do pôster de 1 ano, as deliciosas comemorações não param. Convidamos algumas pessoas que foram importantes para a Action ao longo de sua existência e pedimos uma post especial.

Alguns, por motivo de tempo, não puderam colaborar, mas mesmo assim, fica o agradecimento de coração a Flávia Durante, Roberto Iwai e José Roberto Fidalgo. Dentro da possibilidade de cada um, fizeram com que a gente continuasse a tocar o coletivo de forma morosa e tendenciosa até aqui, como o Rui diz.

Depois do Ciro e do Alessandro Atanes, agora é a vez do Benjamin Ferreira do Boogie Central nos presentear com uma post! Ao longo dos próximos dias, teremos a presença de Márcia Okida!


Volte no tempo uns trinta anos. Inúmeras bandas de funk estavam nas paradas, a maioria dos EUA: Chic, Earth Wind and Fire, Kool and The Gang...; Michael Jackson lançava sua obra-prima "Off The Wall"; Prince despontava; Motown investia em explosivos de Rick James e Commodores; Diana Ross se preparava para gravar com Nile Rodgers e Bernard Edwards; "Rapper's Delight", primeiro grande vinil de rap, tinha acabado de sair e vendia horrores; o underground fervia com os clubes Paradise Garage (NY) e Warehouse (Chicago) e selos como Prelude, Salsoul e West End. Na mesma época, tomava forma no Reino Unido uma cena que se inspirava na americana, fazendo as coisas de um jeito mais tímido, com menos grana, mas nem por isso menos bonito.

Enquanto o funk americano tendia um pouco mais para a disco, o Brit Funk aproximava-se mais do jazz. Claro que tal divisão não pode ser vista de maneira muito rígida, já que existia um pouco de quase tudo em todo lugar. Havia também o movimento "Disco Sucks", que obrigava quem quisesse continuar fazendo disco music, especialmente os americanos (e não eram poucos), a rotular seu som de maneira diferente. Funk era a palavra de ordem, embora todas essas misturas tornassem o limite entre os estilos cada vez menos nítidos.

Os pioneiros do Brit Funk são os caras do Hi Tension. No início Hot Waxx, mudaram de nome e estrearam com um álbum homônimo em 1978. Seu ápice veio no ano seguinte com o single "There's A Reason", produzido por Biddu - indiano que depois de tentar uma versão local para os Rolling Stones no fim dos anos 60 se mudou para Londres, produziu Carl Douglas e sua "Kung Fu Fighting", Tina Charles, e comandou a Biddu Orchestra. Entre os membros do Hi-Tension estavam Phil Fearon (que depois fundou o Galaxy e lançou a brilhante "Dancing Tight" e David Joseph (do hino de 1983 "You Can't Hide Your Love".

O termo "Brit Funk" foi usado pela primeira vez com o Light Of The World, banda de nove integrantes cujo desdobramento mais bem-sucedido foi o grupo Incognito, anos mais tarde. O primeiro disco do LOFTW saiu em 79, mesmo ano em que o Atmosfear (que compartilhou integrantes com eles e mais tarde com o Incognito) soltou o single "Dancing In Outer Space", cósmico jazzfunk com uma pitada de reggae no meio. Além do Atmosfear, o LOTW também tinha músicos no Freeez, grupo encabeçado pelo multihomem John Rocca. O primeiro single do Freeez data de 80 e, um ano depois, saiu o que alguns consideram os cinco mais lindos minutos já gravados: "Southern Freeez". Depois o Freeez levou seu som a veredas mais eletrônicas e vendeu milhões com a estupenda "I.O.U.".

"Southern Freeez" tinha nos vocais Ingrid Mansfield Allman, que também fez backing vocals para alguém que chamaria a atenção de Quincy Jones. Pouco se falou disso, mas o britânico Chaz Jankel é o responsável pela primeira versão de "Ai No Corrida" em 1980, canção que se tornaria sucesso na regravação de Quincy um ano depois. Chaz lançou outros excelentes trabalhos na primeira metade dos anos 80 (como "Glad To Know You"), passou um tempo sumido e voltou com tudo algum tempo atrás, asssim como o povo do Level 42, que lançou em 1981 um dos pontos altos do Brit Funk: "Starchild", antes do estrelato com as populares "Something About You" e "Lessons In Love".

Sucesso, aliás, foi algo que o Imagination teve de sobra, assim como coreografias pintosas e roupas espalhafatosas. Para muitos a primeira grande banda negra do Reino Unido, as bis quebraram barreiras não só com a atitude extremamente gay, mas também com um som que tinha como principal característica uma linha de baixo sintetizada, funkeada e preguiçosa. O maior sucesso do Imagination foi "Just An Illusion", e ecos de seu som podem ser ouvidos em uma conhecida música de 1985: "Clouds Across The Moon" é da RAH Band, um grupo de um homem só, Richard Anthony Hewson, produtor/ arranjador/ maestro/ multi-instrumentista que desde o fim dos anos 60 trabalha com gente grande, de Beatles a Herbie Hancock. "Clouds..." é linda, mas o que realmente importa aqui são dois singles de quatro anos antes: "Slide" e "Downside Up", duas obscuras gemas do jazzfunk britânico.

Ainda existem muitos outros nomes - de Central Line e Paul Hardcastle a Kajagoogoo e o Wham! de George Michael, já numa época - meados dos anos 80 - em que as coisas começavam a se diluir. Os frutos do Brit Funk, no entanto, podem ser vistos no Acid Jazz da virada dos 80 pros 90, que vai do já citado Incognito até o popular Jamiroquai, além do trabalho de DJs como Greg Wilson, Gilles Peterson e Norman Jay. Isso sem falar no tal "retorno" da disco e afins que vivemos atualmente, que nem aconteceu para muitos que nunca viram esse som ir embora.

Benjamin Ferreira é DJ, disco freak e mantém um dos melhores sites sobre música atualmente, o Boogie Central

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ratings by outbrain

Action é um conjunto de idéias voltado para o design, música negra e jornalismo gonzo proveniente de Santos, SP. Confira nosso Release ou entre em Contato.