terça-feira, novembro 25, 2008

Swing: Rumo à sacanagem - Final

Esse foi um trabalho feito pra um TCC sobre Jornalismo Gonzo. Para quem não conhece, é basicamente o Novo Jornalismo, quebrando o resto das regras que faltavam, e regido sob o espírito de Hunter Thompson.

Avisamos que o post tem conteúdo adulto e sexual, podendo ofender algumas pessoas. Por via das dúvidas, não leia.

Swing: Rumo à sacanagem - Final
R. Costa


Gordos sozinhos perambulavam pelo labirinto e arredores, procurando ver algo de bom, ou até por algum fenômeno serem chamados pra algo. A cena da loira chupeteira agora era comum e freqüente. Gritos, gemidos e palavras inaudíveis faziam a trilha sonora do filme, que no momento mais merecia um baixo pesado de um funk americano dos anos 70. Péwewéu tum tumptum déw wéw. Agora a trilha era mais dificultosa com a presença de mais transeuntes, a maioria com um olhar envergonhado, pedindo licença para passar, com o risco de ter a bunda estralada. Ossos do oficio. É de se imaginar que um lugar assim todos fossem parecer mais abertos, não sei, como no filme francês Irreversível, de Gaspar Noe, com vários andares de putaria louca, seguindo por um calabouço vertical dos pecados, e não só uns velhos gordos pedindo desculpa e tentando bater uma punhetinha escondidos, vendo alguém, ou gente estranha, maníacos, loucos idiotas o suficiente para se manterem tranqüilos e verem aquilo tudo como se passasse na teve. Fodam-se os que não conseguem ser porra louca nem em no reino da safadeza liberta e da libertinagem safada.


Sigo naquele caralho de labirinto sem nada de novo, acho que essa coisa toda de ver todos querendo se descontrolar mas com medo de qualquer coisa me irritava. No fim, como já disse, o salão grande. Ali sim o bicho pegava. Umas vinte pessoas, nem isso, se chupando, se assistindo, se batendo e literalmente se fodendo. Dois caras davam conta de uma gordinha animada, enquanto reconheço que a parceira de um deles estava do outro lado da sala, no resto do sofá modulado de couro, se masturbando freneticamente. Se aproxima um voluntário a chupá-la, que de pronto aceita. Ê vidão besta. Outros fodem uns aos lados dos outros, irreconhecíveis das pessoas de baixo, cotovelos, pintos, bucetas, peitos, cabelo voando pra tudo que é lado. Uma besta com mais braços que Ganesha, maior que Shiva e, pelo jeito, mais feliz que o próprio Buda. Exceto que não era a barriga que estava sendo massageada. Casais tímidos ficavam na porta, se animavam, mas não entravam. Tudo era visto pela porta ou pelas janelas de treliça, que incitavam o voyeurismo de um modo estranho, já que o voyeur era visto pelas pessoas de dentro, e, muito provavelmente, quem estava dentro estava literalmente cagando de serem assistidas. Na frente haviam salas menores parecidas com essa maior. Das três salas, apenas uma estava ocupada por quatro pessoas, duas delas rindo e duas gemendo. Queria saber qual era a piada. Detalhe presumível, todos pelados.


Saio pelo outro lado do mezanino, que contorna o labirinto. Uma morena dava narigada na barriga de um cara, de olhos fechados. Antes de passar por eles, o cara dá um gemido quase na minha cara. Chifrudo. A ocasião toda me lembrou de uma versão adulta e bissexual – não testemunhada por mim, mas pensando que havia um casal de lésbicas e pelo clima do local, devia acontecer mais do que se tem notícia – de uma prática americana, o Circle Jerk. Era quando vários adolescentes assistiam um filme pornô e então sentavam em um círculo, masturbando a pessoa ao lado. Imagino que fosse como um jogo de UNO, onde dado o comando, a ordem trocava. Acho que de bom disso tudo, apenas a banda homônima de punkrock dos anos 80.


Saí de lá feliz, porém decepcionado. Em um clima onde é possível de fazer praticamente qualquer coisa, tirando, talvez, cropofilia, as pessoas ainda ficam tímidas pela própria sexualidade e preferem se masturbar ouvindo os outros se divertirem. Cada qual se diverte com o que quer, mas, porra, isso é literalmente gozar com o pau do outro. Penso que o que acontece em algumas micaretas, carnavais, bailes funk, festas da espuma, do farol, do blecaute, do double e afins é bem pior do que aconteceu. Apenas é um pouco mais velado. E as surubas ficam mais de canto. Porém, quanto ao desejo, o swing perde muito. Talvez pelas regras, pela antecipação ao sexo, pelo fato de irem lá pra realmente fazerem algo, ou, não sei, qualquer outra limitação psicológica, aquilo tudo tem um potencial fodido, mas inexplorado. Pode ser também que tenha escolhido o lugar errado, e a matéria merecesse uma turnê pelos grandes clubes de swing numa investigação minuciosa e ativa de todos os aspectos. Idéia que foi vetada pela patroa, que considerou o material suficiente. Gostaria de fechar dizendo que o swing é uma experiência que todos deveriam ter, mas não é bem por aí. Na real, é como uma droga, ou qualquer coisa polêmica. É como a primeira vez em que se faz sexo, numa comparação com alguma relação ao tema. A antecipação é uma das melhores sensações que há, o ato em si dura um tempo inadequado e no fim você sai confuso, frustrado e com um pouco de fome. E, como sexo, talvez a freqüência melhore a qualidade de tudo. Ou seja apenas algo caro e que gere um punhado de chateações. Novamente, assim como sexo.

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