domingo, novembro 23, 2008

Swing: Rumo à sacanagem - Parte 2

Esse foi um trabalho feito pra um TCC sobre Jornalismo Gonzo. Para quem não conhece, é basicamente o Novo Jornalismo, quebrando o resto das regras que faltavam, e regido sob o espírito de Hunter Thompson. Este post está dividido em três partes e a próxima será postada segunda à noite.

Avisamos que o post tem conteúdo adulto e sexual, podendo ofender algumas pessoas. Por via das dúvidas, não leia.


Swing: Rumo à sacanagem - Parte 2
R. Costa

Adentrando aquele buraco – e digo isso sem qualquer malícia – defronto-me com uma série de passagens de tapumes. A maioria deles levava apenas a passagens sem saída, com pequenos quartos sem porta, mas conforme ando, percebo que aquele começo não era nada. A cada passo que dava pelo ambiente escuro e de ar preocupante descubro mais, até onde meu olho consegue enxergar. Após a primeira etapa, que são basicamente apenas caminhos sem iluminação, chega-se a algumas paredes finas, com quatro buracos de um lado com um pequeno banco na altura das mãos e cabeça, respectivamente, de quem estivesse sentado, e, do outro, apenas uma entrada. Conseguia imaginar o que poderia acontecer ali, mas não demorou até realmente presenciar algo acontecendo. Uma coroa, loira, cabelos curtos, chupava um pinto anônimo. Só reconheci sua presença quando, sem querer, chutei o pufe no qual ela estava sentada. Pedi desculpas, mas não houve resposta. Relevei a gafe, ela estava ocupada. Não me concentrei muito na cena, ver alguém fazendo tal tarefa no mesmo lugar que eu já me era inédito, mas o jeito que tudo estava acontecendo era ainda mais estranho.


Continuando a jornada através da obscuridade, outras dessas paredes apareciam, mas todas vazias. Acabo descobrindo, mais tarde, que se chamam ‘salas de toque’. Mais a frente haviam alguns quartos fechados, um ao lado do outro, com buracos em todos eles, interligando-os. Não foi preciso criatividade para imaginar a função. Há também quartos pequenos e fechados, com trava. Relaxei um pouco quando percebi que todas as cadeiras eram de couro e em todos os ambientes haviam pequenos porta papel, para a suposta higienização local após cada encontro. Topo novamente com a minha conhecida redonda da porta do Labirinto, que entrava por onde eu estava saindo, no momento. Apercebo-me de outro ambiente, que era basicamente o mesmo do andar inferior, com mesas e tudo mais, mas com uma porta ao fim, ligando o fim e o começo da instalação da sacanagem anônima. Desço novamente.


Minha incursão ao segundo andar foi tempo suficiente para que o salão inferior se enchesse. Pelo menos metade das mesas já estavam ocupadas, e em todo lugar as mulheres dançavam com certa liberdade, com os respectivos maridos, namorados, colegas e/ou comedores observando do balcão, falando amenidades. Sento-me perto, tentando me enturmar, queria fazer parte da gangue do swing. Peço mais três doses de cachaça pro garçom que já estava puto por eu querer gastar tão pouco. Já no fim do terceiro percebo um coroa de aparência inofensiva e redonda me observando. Puta que pariu, só faltava uma bicha gorda querer vir puxar papo comigo, sendo que tinha tanta mulher no espírito de sacanagem no recinto. Logo essa impressão cai por água, sua mulher chega para conversar com ele, e, na chegada de um novo casal, os dois os beijam profusamente. Ambos os parceiros. Já não acho tão espantoso, cada instante passado naquele ambiente me deixa mais calejado e nada assusta tanto quanto o baque inicial, pelo menos por enquanto. Vai que entra alguém montado num jumento, a grande atração da noite. Suruba eqüina pode ser a nova moda das noites paulistanas.


Acaba que todos saem dali. Ou é o que parece. O obeso agora, além de olhar em minha direção, sorri. O viado. Levanta e senta numa cadeira perto de mim.

Gordo

Oi.

Eu, mais gordo ainda

Opa.

Gordo

Eu conheço quase todo mundo que vem aqui, cê é novo, né?

Eu

Não sou novo, mas é a primeira vez que venho.

Gordo, sorrindo

Percebi, então cê é novo. Sabe como funciona?

Eu, pacientemente

Sei. Todo mundo sobe e se come.

Gordo, aparentemente decepcionado

Não, não é bem por aí. Sabe, tu precisa conhecer alguém, conversar, tal, fazer amizade. Não é chegar botando na mulher de todo mundo. Cadê a sua?

Eu, tentando manter uma cara séria

Em casa. Lendo a bíblia.

Gordo, que aparentemente estava mais interessado em conhecer minha parceira do que me explicar como funcionava tudo

Hum, então. Mulher é moeda de troca. Mais fácil tu conseguir algo com alguém pra oferecer, sabe? Não adianta querer fazer tudo, assim, sem conhecer ninguém nem trazer ninguém. Não é fácil assim. Tem cara que até gosta que algum desconhecido coma a esposa e ele assista, sabe? Corno manso, fetichista.


Eu

Urrum, o melhor tipo.

Gordo, alegre pela minha sinceridade

É, é. Então, tem gente que gosta de ser observada. Esses ficam nos quartinhos com grade. Tem gente que só gosta de trocar, mesmo.

Eu

Só?

Gordo

É, tal. Modo de dizer. Cê sabe. Então, e tem mulher que vem sozinha e quer dar pra todo mundo, às vezes ao mesmo tempo, é normal. Sabe? Aí tem cara que assiste, cara que come outras, mas a mulher é quem manda em tudo. Se ela quiser dar pra vários e quiser que o cara só assista, ele só pode concordar, ou falar pra irem embora. A mulher tem o poder.

Eu

Por isso a minha está em casa, lendo a bíblia.

Gordo, risonho

Então. Aí você precisa conversar. O lance esquenta mesmo quando acaba o show. Todo mundo curte, tal, fica se roçando, vendo a mina fazendo strip, depois todos sobem pro labirinto. Aí é bom. Mas cê devia ter trazido tua mulher.

Eu

Não, tranqüilo, precisa não. Olha, vou ali no banheiro. Depois a gente se fala. Depois tu me apresenta tua mulher. Valeu pelos toques.


O gordinho saiu feliz pelo novo amigo de swing. Cara insuportável, mais cuspia que falava. Foi eu estar na porta do banheiro, um cara de meia idade tira a roupa no salão. Uma morena, não sei o grau de relação com ele, começa a chupá-lo. A exibição acaba rápido, o showman brochou com a pressão. Volto do banheiro, havia começado o show de verdade. Uma loira com todos os requisitos e aparatos de stripper se contorcia no meio da pista. Nisso vai uns 10 minutos, ao chamar uma outra menina, que estava acompanhada, pelo que reparei depois, com outra garota que mais parecia um skatista colegial. Cada um, cada um. Exibição chega ao fim e a putaria começa. Literalmente. Aparentemente, o fim do show erótico é a deixa para os casais subirem ao mezanino e a noite começar de verdade. Isso só percebo depois de uns 20 minutos, quando o salão já está praticamente todo vazio. Subo, refazendo os passos de uma hora atrás, em um ambiente completamente diferente. Agora era outro lugar e o clima de sacanagem era denso.


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