quarta-feira, outubro 22, 2008

Uma viagem aos terreiros: Os Afrosambas

Uma das coisas mais legais de se falar da música negra é ver as diversas facetas que ela tem ao redor do mundo. O Brasil assimilou de forma ímpar toda essa influência dos escravos africanos e nos presenteou com um dos melhores e mais conceituais discos: Os Afrosambas, do Vinicius de Moraes e do Baden Powell.

O Candomblé é uma religião que foi trazida por escravos da região da Nigéria e de Benin, e tinha como principais características seus cânticos, rezas, encantamentos e louvações.
A Umbanda, assim como o Candomblé, é uma religão que também tem seus pés na África, porem foi formada dentro da cultura religiosa brasileira. Claro, a idéia não é se aprofundar na história dessas religiões, mas apenas dar um pano de fundo para o que iremos falar.

Vinicius, nos anos 60, ganhou 2 discos que mudariam a história da música brasileira e dariam o tom do que logo seria chamado Afrosamba: Um de Sambas de roda e um de Candomblés da Bahia. A mistura tava feita, ele teria mais que material suficiente para compor algumas músicas que fariam a perfeita mistura das religiões afro brasileiras e o samba. É aí que entra em cena o violinista e amigo de Vinicius, Baden Powell, que também se encantou, indo anos mais tarde à Bahia, buscando conhecer mais sobre essa coisa toda, inclusive fazendo amizade com artistas e intelectuais baianos.

Sob a influência de tudo isso, somada com as aulas que teve de canto gregoriano, Baden e Vinicius lançam "Os AfroSambas" em 1966, produzido por Roberto Quartin, é o primeiro disco de música brasileira a misturar instrumentos típicos das religiões afro-brasileiras como afoxé, agogô, atabaques, e bongo com instrumentos tradicionais como violão, bateria, flauta e contrabaixo.

A banda Quarteto em Cy e um coro formado por amigos de Baden e Vinicius acompanham nas canções, em um dos discos mais sombrios e densos da música brasileira, extremamente conceitual, o samba e a música africana, de raízes semelhantes, se tornam um estilo totalmente híbrido, fazendo com que não consiga se imaginar que são estilos musicais diferentes.

A sensação que passa o disco é de como se estivessemos em um terreiro, totalmente hipnotizados pelos atabaques e cantos aos Orixás. O disco tem uma profundidade tremenda, e mostra o quanto é especial, é com certeza um disco pra ser ouvido e apreciado. Recomendadíssimo!

Um comentário:

  1. existe um dvd de um programa que o vinicius de moraes gravou para uma tv italiana, junto com toquinho, miucha e tom jobim onde ele comenta e toca algumas músicas, os afrosambas inclusos, e ele vai entornando as canas uma atrás da outra, sem parar... quando chega no "canto de ossanha" ele sai alguns momentos do palco, e quando adentra dá AQUELA dançadinha de bêbado safado, braço aberto no tererê! e começa a misturar italiano com português e inglês e solta um "pô, o que que eu tô falando"! tudo isso sentado numa mesinha no palco estilo "bar de morro que tem um terreiro como vizinho".

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