quinta-feira, junho 04, 2009

A história do PJ

Daqui pra frente, todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreverá crônicas sobre a cidade pra Action. Hoje, sua nona crônica.

A princípio ninguém deu muita bola para as histórias do P.J. Só eu abracei a filosofia daquele coroa meio maluco que apareceu em uma noite no bar da galera.

- Meu moleque tem 15 anos. E vai pra natação todos os dias – ele dizia.

A galera já estava impaciente e irritada com P.J. Eles me chamavam desesperadamente para ir ao banheiro cheirar.

- Molecadinha, vocês têm que estudar – P.J. falava, enquanto todo mundo voltava do banheiro travado.

Porra, quem era esse cara pra ficar dando lição de moral no pessoal? Durante a semana, levava o “moleque” dele pra natação e no fim-de-semana ia pro bar cheirar com uns caras que tinham o terço da sua idade. De qualquer jeito, gostei dele.

Algumas semanas depois, eu, Alemão e Júnior encontramos P.J. em um bar qualquer. O cara ficou felizão em ver a “molecadinha”. E nós ficamos radiantes diante da possibilidade de alguém conseguir um pó para a gente.

- Molecadinha, vocês têm que estudar – ele falou, quando tocamos no assunto. Mas não deu nem dois minutos e já colocou um papelote na nossa mão.

Assim virou nosso amigo. Parceiro de droga. Logo estava nos chamando para ir á casa dele ouvir discos de vinil. Sua coleção era grande. Tinha Yes, Emerson, Lake & Palmer, Rolling Stones e até John Lennon,que era o que eu e ele mais gostavam. Podia ficar horas ouvindo “Working Class Hero”.

Ficamos tão íntimos de P.J. que às vezes chegávamos de surpresa na sua casa. Obviamente, nem sempre ele estava. Às vezes estava comendo uma tal de Angélica, na casa dela. E às vezes devia estar pela rua procurando mais droga.

P. J. morava em um predinho de três andares, desses que têm apartamentos no térreo. Então era fácil chamá-lo. Era só entrar no prédio e chamá-lo pela janela.

- Peraí, molecadinha. Não vai dar pra você entrarem agora, mas eu tenho um negócio aqui pra vocês.

Um minuto depois, P.J. reapareceu na janela com um CD do Fábio Jr. que serviria de bandeja. Esticou as carreiras ali em cima e passou para a gente. Era engraçado cheirar em cima da cara de um cheirador. Ninguém perguntou por que ele tinha um CD do Fábio Jr. Talvez fosse um presente de Angélica. Porém, a função que o disco ganhou foi perfeita.

Durante meses andamos com P.J. Ele até nos apresentava alguns de seus amigos. Um deles se vangloriava de ter escrito uma música que dizia “tanto fiz, tanto fiz, que até furei o meu nariz”.

P. J. mostrava objetos pessoais, como um caderninho que ele mantinha durante a adolescência. Nele, escrevia sobre as suas aventuras surfando pelo litoral norte com os amigos e colocava um * em todas as vezes que paravam para fumar maconha. Algumas páginas tinham mais asteriscos do que palavras.

Certa noite, P. J. começou a contar sobre a sua experiência na cadeia. Dizia que foi parar lá por ter matado um homem. Curiosos, perguntamos como ele fez isso. Sem mudar de expressão, P.J. foi até a sua cama e puxou de trás dela um pedaço de pau de mais ou menos uns dois metros.

- Eu guardo isso até hoje.

Nunca mais voltamos à casa do P.J. De vez em quando ainda o vemos por aí e ele sempre pede para darmos uma passadinha em sua casa.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

2 comentários:

  1. Tamos em 2009! Não é mais papelote, agora é pino! Agora a coisa é high tech hahahahahahahahaha

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  2. Como dizia O Eremita: "A cocaína é droga de direita. A maconha é um barato de esquerda. Já a nicotina é o consolo dos aflitos!"

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