quinta-feira, janeiro 01, 2009

Madchester: Quando a fumaça virou combustível nas pistas - Parte 1

Começando o ano com o pé direito, uma matéria de duas partes à respeito de Madchester. Essa cena musical revolucionou a industrial e poluída Manchester e deu seguimento à cultura rave iniciada com os clubes que tocavam Soul Music no norte da Inglaterra. A Action admira não só a história do movimento bem como as bandas e os sons tocados pelos dj's que tiveram uma forte pegada de música negra. Ah, é recomendável dar uma lida aqui no texto sobre House que fizemos há um tempinho atrás.


Manchester sempre foi uma cidade importante. Não só pelas famigeradas equipes de futebol, mas por toda sua importância histórica durante a revolução industrial e na manufatura de produtos têxteis. No fim da década de 70, um show do Sex Pistols com presença de apenas 42 cidadãos começaria a inspirar peças chaves do movimento. Nele, caras como Tony Wilson, Martin Hannet, Bernard Summer, Peter Hook e até o chato do Morrissey estavam presentes. Nesse ponto, a história de Wilson, sua gravadora Factory Records e uma certa banda de nome Joy Division se mesclam. É difícil, quase impossível, falar da cena de Madchester sem falar desses três importantes componentes. Tony Wilson, até então, trabalhava como apresentador na Granada TV e recentemente havia entrevistado os Pistols.


O ano é 1978 e o punk está em seu auge na Inglaterra, a música negra havia perdido seu espaço na mídia e no público na terra da rainha embora ainda houvessem ecos de pessoas influenciadas, como as bandas The Jam e The Clash. Nesse mesmo ano, Wilson, com ajuda do desempregado ator e produtor Alan Erasmus, começam a organizar a festa em um clube da cidade chamado The Factory. Outro elemento importante nessa história, que inclusive já foi abordado no blog, é a figura do designer Peter Saville, que além de ter produzido posters de divulgação da festa, acabou posteriormente lançando com Erasmus e Wilson um Ep com algumas canções tocadas por bandas que haviam se apresentado no The Factory, como Durutti Column e Joy Division. A partir desse Ep e com a entrada de Martin Hannet, que até então trabalhava como produtor em um pequeno selo de Manchester, a Factory Records estava criada.


Nos anos seguintes muita coisa aconteceu e não foi só a meteórica carreira de Ian Curtis e o Joy Division mas o surgimento de outras bandas como o A Certain Ratio, formada por moleques desmotivados pelo tédio de Manchester e que tocavam uma excêntrica mistura de Funk, Afro Beat e até mesmo um pouco de música eletrônica como Kraftwerk. O resultado poderia não ser um Fela Kuti ou um James Brown, mas era dançante. Frio, mas dançante. A Factory com essas bandas no catálogo estava moldando uma identidade própria e Manchester era a grande inspiração. Com o suicídio de Curtis e o surgimento do New Order, a gravadora teve que seguir em frente, e em 1981, Factory e essa nova banda abriram um clube.


A situação econômica da Inglaterra e da gravadora não estava nada bem. Hannet acabou saindo, assim como Saville, ambos por problemas com seus honorários. O clube Haçienda, mesmo com todos esses problemas, foi aberto em um antigo depósito de barcos e embora tenha feito sucesso e sido importantíssimo na cena dance music inglesa e mundial, foi basicamente sustentada pelo dinheiro conseguido pelo New Order, um dos sócios do local em conjunto com a Factory.


Peter Saville, Tony Wilson e Erasmus, os "caras" da Factory


Pularemos um pouco esse assunto e voltaremos um pouco no tempo. Até porque como já falamos no início, a história da Factory acaba em alguns momentos se confundindo com toda a cena de Madchester. O norte da Inglaterra, desde a década de 60 e 70, com seus clubes de Soul Music, já tinham certa vocação para o que mais tarde seria batizado de cultura rave. As pessoas, na sua maioria de classe trabalhadora dançavam a noite inteira, como se não houvesse um dia seguinte. Abastecidos por drogas, pela paixão da música negra e a poluição das cidades do Norte, ouviam os discos mais dançantes e obscuros de Soul Music trazidos pelos DJs que passavam meses fora do país em busca das maiores pérolas da música negra americana.

O Northern soul, cultura que teve esse nome dado por um dono de uma loja de discos, não tinha esse nome por ser uma vertente de Soul Music feita no norte de algum lugar, mas uma vertente de Soul Music apreciada e celebrada no Norte da Inglaterra. Quanto mais rápida a batida e quanto mais obscura fosse, melhor, e nisso a cultura rave e do DJ estavam moldadas.
Com o passar do tempo e com a própria evolução do som, o Soul foi ficando mais funkeado até chegar ao que se é conhecido por Disco music.


O Soul do Norte era uma influência reparável na cena de Madchester mas foi perdendo um pouco o gás que tinha no meio da década de 70 e com o rápido crescimento do House no gosto dos ingleses, a coisa foi caindo um pouco no esquecimento. Não podemos esquecer também do garage, outro som que essa geração cresceu ouvindo e que tinha na sujeira e na porra louquice das bandas, seu grande diferencial.


The Twisted Wheel, um dos lendários clubes de Northern Soul em Manchester


Parte 2 - Final

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