sexta-feira, maio 29, 2009

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Tudo que é bom é inesperado. Acontece que a Action ganhou um colaborador novo. Fã de The The e grande mentiroso, vos apresento a coluna de Leonardo Marques. Toda sexta-feira na Action. Hoje, a segunda edição:

Digo à minha namorada: “Encare os espíritos chineses, ignore as bestas espanholas, desdenhe dos psicopatas americanos, é só um filme, cacete, pare de usar as minhas belas mãos para vedar os seus olhos!”.
Mas reconheço que não dormi direito na primeira vez em que assisti A Bruxa de Blair. Eu tinha 17 anos. Mentira, 18 anos. E estava cheio de espinhas purulentas espalhadas por todo o meu rosto. E a menina que eu namorava na época tinha acabado de me dar um fora. E eu chorei na frente dela após o fatídico episódio. O que me fez conquistar o Nobel de melhor exemplo de eufemismo para patético: “Fofo”. E duas semanas depois dessa desventura tentei pegar uma amiga dela chamada Débora, que era meio banguela, em um baile de carnaval promovido por um hotel chique de Guarujá. Evidente que tomei outro fora. Depois tomei todas. Todas as bebidas e todos os foras possíveis e impossíveis de serem tomados em um espaço de quarenta e cinco minutos. Depois surtei. Me joguei na piscina da balada. Perdi a comanda. Tive que ligar para o meu pai vir me buscar para não ter que pagar trezentos reais. Ele veio. Eu paguei trezentos reais. Os meus amigos da escola riram de mim. O meu colega David, quatro dias depois do “inferno”, disse em sala de aula “que o sol veio a ‘encalhar’”. Eu ri na cara dele e disse “a calhar”. Ele gritou que o pai dele nunca havia tido a necessidade de buscá-lo na balada para socorrer o bundão do filho. A sociedade escolar riu de mim. Sobretudo as meninas. Inclusive os funcionários. Até o zelador mudinho. Ana Flávia, do terceiro colegial, foi a única que não riu de mim. Porque me amava. Só que eu não a amava. Então ela gargalhou por vingança. E mostrou os peitos pro Gilson, que era da minha classe. E ele chupou. E não gostou. “Muito pequeno, bem mole.” Ele só sabia falar assim. “Juliana, bom sexo”; “Garganta, dói”; “Água parada, dengue!”; “Leonardo, filhinho de papai”; Eu respondia: “Gilson, mãe vaca”; “Gilson, pai cadeirante”; “Gilson, irmã chupou meu pau”. O que era verdade. Até mesmo o pai cadeirante. Que era a favor do retorno da ditadura militar e acreditava que o fim da violência só seria possível quando resolvessem explodir a favela. Apesar das desgraças, continuei empurrando o meu barquinho sem bateria sobre a maré impiedosa. Continuei perguntando à minha mãe se ela realmente me amava incondicionalmente. Continuei perguntando ao meu pai se eu era verdadeiramente o seu filho mais que campeão. Prossegui perguntando à minha avó, pós Valium e pós “só três dedinhos de uísque”, se existia alguma probabilidade de eu ser adotado. “Claro que não, boneco.” “Vó, eu sou seu neto, não sua puta.” “Hahahaha, você é muito engraçado, meu Choquitinho.” Continuei perguntando a Deus se havia vida após a morte. Ele me respondeu com uma fratura no meu tornozelo esquerdo, um rompimento no meu ligamento, uma cirurgia para colocar sete pinos de platina e uma placa, um gesso para me fazer companhia durante dois meses, um laxante para extirpar a rigidez que se transforma a merda quando se anda pouco, o recorde mundial de punheta, a oportunidade de assistir à última temporada completa de Six Feet Under e reconhecer mais do que nunca que a vida é realmente a morte da vida, mais uma cirurgia para remover o pino que servia somente para bloquear a minha articulação, um mês e meio de fisioterapia, um bolo da Dora, “a Dora dar o cu” para os mais chegados, para ver se ela dava uma mãozinha, as omoplatas, o traseiro, a vagina, sem beijo, a chupadinha miraculosa que levantava até eunuco, mas ela resolveu ser mais uma cidadã a adensar o agourento coro: “Tomara que você cague nas calças no dia do seu casamento, Leonardo!”. “Tomara que você nem case, Leonardo!”. “Tomara que o seu filho seja gay, Leonardo!”. “Tomara que o seu filho seja gay e seja engolido por um leão quando você levá-lo ao zoológico, Leonardo!”. “Tomara que você batize o seu filho de Telmo e se arrependa depois por ter sido o principal responsável por desgraçar a vida do seu filho gay que irá ser engolido por um leão, Leonardo!”. “Tomara que você seja estéril, Leonardo!”.
Portanto continuei deambulando dando ritmo ao pendor intermitente da minha esquálida porém imberbe bunda salpicada por irritantes espinhas arrivistas que provocavam coceiras enquanto o ônus existencial de ter que carregar uma velha catraia esburacadamente úmida sobre os extenuados ombros prosseguia de modo a oferecer um único péssimo caminho escuro envolto por um túnel instalado sobre as águas chernobilescas da travessia Vicente de Carvalho-Santos para continuar a desenvolver a contragosto os imutáveis bom-dia/com licença/boa-tarde/por favor, use desodorante/caralho, tá demorando/boa-noite/boa-noite, tira a roupa, pega o dinheiro, estamos perdendo tempo/ em suma, modos desonestamente honestos de se relacionar com a sociedade - e formas embusteiramente sinceras de se visualizar no espelho e dizer, “sim, realmente, eu tenho uma vida, é, vida, sim!”.
Mas antes disso, mas no início disso, eu estava parado bem em frente ao finado Cine Ipiranga, na Avenida Ana Costa, na cidade de Santos, na companhia do meu amigo Lúcio, que havia, na ocasião, em um ato de insurreição contra a instituição familiar, pintado o seu cabelo de azul, logo ele que havia sempre se gabado por usar os melhores shampoos, os franceses, os espumantes, que embelezavam as suas longas madeixas cor Rio Tietê, que afagavam, às vezes com fúria, sobretudo quando ele empunhava a sua Fender Caralhocaster branca, as ombreiras de suas camisetas invariavelmente negras com as estampas do Megadeth, do Metalica, do Black Sabbath... Lúcio era aquilo que os bem-sucedidos proprietários de lojas de cd no início dos anos 90 chamavam de “cliente fiel”. Lúcio era o tipo de cidadão revoltado que enfiava o dedo indicador na boca escancarada e mostrava a língua no intuito de ostentar um sinal de reprovação para o seu interlocutor ou para si mesmo ao ver uma imagem que lhe desagradava. Exemplo, quando se deparava com algum dos inúmeros pôsteres do Ugly Kid Joe. Exemplo, quando diziam que o Yes era uma banda de exibicionistas. Exemplo, quando viu, incrédulo, o que o Caio fez com a parte detrás do seu cabelo ao raspá-lo a seco com gilete Bic de barbear caminhoneiro. Lúcio era o cara que na adolescência reunia os amigos para tomar uma gin pura enquanto discutia a dúbia vida sexual de Phil Anselmo. Lúcio era o raro espécime que não se importava quando chamavam a mãe dele de vagabunda, mas que se alimentava de um ódio vertiginoso, que só era extravasado por meio da violência ou do sacrifício humano, quando diziam que Mr.Big era rock; ou por meio da sodomia artificial que leva à morte - estupro com cabos de vassoura, com cabos de aço, com picolés congelados por dois meses em forma de cone, com cone de estrada com cobertura de pixe de estrada -, quando injustamente diziam que Lars Ulrich, baterista do Metalica, coçava as amídalas com rôla de negão suada e nada asseada de 42 cm de comprimento e doze cm de diâmetro.
Lúcio era assim, mas ficou assim. Era uma espécie de Hulk Hogan do rock, mas decidiu dar uma mudada e se transformar em um Lafon do indie. Deu uma desmunhecada. Desacelerou o pé do metal e de toda a podridão máscula que o envolvia e começou a usar cachecol roxo no verão, a freqüentar as feiras anuais do Mercado Mundo Mix, a encomendar objetos “in” do Mercado Mundo Mix, a marcar encontros para um “coffee” no Mercado Mundo Mix, a achar Pixies melhor que AC/DC, a gravar por cima de Ruas de Fogo e Warriors o “insbibado” Velvet Goldmine, a escutar músicas do New Order e usar adjetivos como “Lindo”, “Sublime”, “Delícia”, “Demais”, “Caramba, que louco”; a esnobar mulheres detentoras de apelidos como “Demo”, “Piolha”, “Bigode”, “Bigode de Pancho Villa”, “Peruana Falsificada”, “Pior que o Sloth”, “Pé de Lama”, “Vítima de Radiação”, “Corpinho de Fóssil”, “Nem Deus Salva”, “Troço de Rato”, “Só 1,99”, “HIV, certeza”, “Grand Canyon” e se relacionar com moçoilas batizadas como “Elisa”, “Abelhinha”, “Sarah Lisboa”, “Abigail”, “Miranda Boaventura” e “Carol”; a remover e destruir os seus antes intocáveis pôsteres do Cannibal Corpse, do Dave Mustaine, do Kirk Hamlet, do Deep Purple, do Gwar, do Motorhead e substituí-los por imagens do Morrisey mordendo o caule de uma margarida, de Peter Murphy, líder do Bauhaus, sentado sobre a tumba de Jim Morrison, no Pere Lachaise, trajando uma tanga preta minúscula de couro enquanto dava uma baforada em um Gitane. A única imagem remanescente do seu passado metaleiro era um pôster de Rob Halford, líder do Judas Priest e eterno Judas dos metaleiros homofóbicos, acelerando a sua Harley Davison e olhando em nossa direção como quem quer dizer, “Porra, gente, tá na cara, né?”.
A cara de cachorro abandonado desgostoso pelo gosto tóxico do rancor inerente reservado aos abandonados com grande coração tomou de assalto o meu saudoso semblante de deslumbramento oferecido pelo inocente amor concebido pela falta de desconfiança que é a mente de um imbecil de 17 anos, mentira, 18 anos, naquela tarde quase nublada de extremo verão em que estava na presença do meu amigo Lúcio, “bom, muito bom, curte Erasure?”, que infelizmente deixaria a cena ao ser procurado por uma menina chamada “Renata”- outros dois amigos, anos depois, deixaram a cena por culpa dos chamados da Renata -, e me deixaria sozinho, estático, perdido, sorumbático, impelido a rastejar pela rampa negra do desafortunado cinema que seria implodido um ano depois, coagido a dilatar as narinas e a receber o odor mágico das pululantes pipocas bicolores, a reservar um cantinho especial no meu bolso para os extintos drops Ducora que ludibriaram até mesmo o mestre Tim, a ouvir o córrego de Coca-Cola de máquina transbordando o obsoleto copo de papelão, a caminhar até minha poltrona na sala de projeção repleta de ácaros, a sentar na poltrona vermelha, a dirigir o olhar para o relógio, a lembrar que nunca tive relógio, a fechar os olhos e ser invadido pela certeza de que não haveria ninguém na sala de projeção para ver o filme comigo, a chegar à sufocante conclusão que nem zumbis canibalescos, colegiais orientais possuídas por espíritos ensandecidos, exorcistas norte-americanas peitudas cobertas de chantily que cospem gosma inflamável, sádicos yuppies da década de 80, e bruxas invisíveis que aniquilam visitantes indesejáveis, seriam mais assustadores que a expressão do meu próprio rosto ao ouvir o meu amor de ocasião me dizer: “Não te amo mais”.

por Leonardo Marques

quinta-feira, maio 28, 2009

Noite de Outuno

Daqui pra frente, todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreverá crônicas sobre a cidade pra Action. Hoje, sua oitava crônica.

Não sei o que tinha fumado ou quantos conhaques tinha bebido. Lembro que estava vomitando no jardim e - logo depois - dentro do canal. Debruçado no jardim, não conseguia ver o rosto feminino da voz que fazia perguntas insistentes.

- Você quer uma água?

- Não.

- Quer uma Coca? Eu pego pra você.

- Não.

- Não quer uma água mesmo?

- Não, caralho!!!

Enfim ela parou. Já estava mais tranqüilo. Poderia voltar pra casa sem problemas.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

terça-feira, maio 26, 2009

One city under a groove #42

Poster Via Flickr da Action

segunda-feira, maio 25, 2009

Robert Crumb e os Cheap Suits Serenaders

Seguinte, há cerca de uns quatro meses, nós temos uma coluna semanal no blog da Agenciau, que nos tem dado uma força bacana em vários aspectos. Ocasionalmente postaremos textos bons de lá, aqui. E hoje, falaremos do grupo de jazz do Robert Crumb, o Cheap Suits Serenaders. Aproveitem.


"There’s one pet I’d like to pet,
And every evening, we get wet.

I stroke it every chance I get;
It’s my girl’s pussy."
- My Girl's Pussy

Esse post chega em clima de jazz. Se você estiver em Santos, sinta-se em New Orleans; lá deve ser tão úmido e abafado quanto aqui. Se conhecer Robert Crumb, então tá em casa. Pra quem não conhece, ele é o maior expoente do cartum underground. Do mundo. Criou Fritz the Cat e Mr Natural, responsável pela genial revista ZAP!. Ele reinventou o modo do mundo ver quadrinhos e própria arte, tudo graças a uma personalidade introspectiva e o uso abusivo do LSD. Sim, a receita do sucesso às vezes funciona.

Falar sobre Crumb é render posts, livros e filmes. Contudo, tem um aspecto pouco abordado da vida do cara. Como um amante ferrenho do jazz (ele até fez um livro dedicado a ilustrações dos grandes - R. Crumb's Heroes of Blues, Jazz, & Country), ele detestava a música contemporânea e tinha seu próprio quarteto de cordas, no qual era frontman. 'Era' porque não está mais muito envolvido com a banda.

Influenciado principalmente pelo estilo de 1920's, os Cheap Suits Serenaders lançaram três álbuns em 33 1/3 rpm, sendo que alguns foram 78rpm, bem depois desse formato entrar em desuso, nos anos 70, à título de coleção. Todos lançados pela Blue Goose Label, se tornaram raridades e de uma sonoridade única. Até pela história de vida do R. Crumb, a banda é singular em vários aspectos. Ouvir um disco deles é tomar um banho do melhor que existe entre instrumentos de cordas, que incluem até o Ukulele (guitarra havaiana) e o Mandolim.

Melhor mesmo do que ler sobre eles é ouvir. Então curtam essa amostra da maestria dos caras e, não se esqueçam, Keep on Keepi'n On.






R. Darci

sexta-feira, maio 22, 2009

Nomadismo Comportamental

Tudo que é bom é inesperado. Acontece que a Action ganhou um colaborador novo. Fã de The The e grande mentiroso, vos apresento a coluna de Leonardo Marques. Toda sexta-feira na Action. Hoje, a primeira edição:

Desde pequeno eu sempre senti que o meu espírito era indubitavelmente contrário à manifestação mais propalada e executada entre os supostos sabichões que dizem “que fazem bico porque pensam”, mas que na verdade fazem bico porque o bico talvez seja o único antídoto, certamente é o mais acessível, para atenuar a triste constatação que a fotogenia é um privilégio daqueles que não precisam pensar em nada para atrair toda a atenção: Bem-Vindos ao tenebroso universo do Nomadismo Comportamental. Alex gostava de New Kids On The Block e morava em São Paulo. Eu morava em Guarujá e superestimava quem morava em São Paulo porque isso é o mínimo que se espera de uma pessoa que vive em Guarujá. Viver em Guarujá é uma merda. Ponto. New Kids On The Block também era uma merda mas eu só tinha dez anos. Não venha me dizer que com dez anos você já tava ligado nas ideias do Jello Biafra, escutava Brahms só de cueca ao mesmo tempo em que sorvia uísque escocês com idade para ter Mal de Alzheimer, fazia duas sessões por dia, de 20 minutos cada, de meditação transcendental, usava a sua irmã como interlocutora enquanto incorporava a onisciência de Platão envolvido por um lençol com a estampa do Super Mouse, ignorava astronautas, idolatrava Calígula e sabia que o Sid Vicious havia cagado na boca de uma mina no Chelsea Hotel. Alex tinha doze anos e era uma espécie de guru comportamental para o povinho caiçara. O povinho caiçara era composto por Cadu, Zé Tó, Jussara Gosta de Mulher e Tem Peito de Homem, Fabiano, Nicolas, Eu, Cláudio, Rodrigo, Maurício, Piolhinho e Sydney. Nós todos amávamos New Kids On The Block porque Alex falou que era bom, e porque ele era de São Paulo, e porque nós éramos do Guarujá, e Guarujá é uma merda, assim como Lorena, Peruíbe, Mongaguá, Itapema, São Vicente, Fernando Bonassi, Pet Shop Boys, Cachorro Grande, arte conceitual, filme chinês, brasileiro que gosta de filme iraniano, Largo do Arouche, Bolívia, Márcia Tiburi, A Tribuna, Brito Júnior, Poço de Caldas, Caldas Novas é legal, mas Luis Caldas, não! Exclamação. Ah, o Douglas também fazia parte do povinho. Alex era ruivo, tinha um relógio Casio calculadora para o qual, quando nos mostrou pela primeira vez, fizemos “UAU!”. Douglas morreu de catapora e, por respeito à sua alma, não farei nenhuma crítica à sua conduta “sovina”. Foi mal. “Uau” é uma reação falada totalmente surrupiada dos garotinhos loiros de classe média norte-americana que eram protagonistas de filmes hollywoodianos da metade da década de 80 e do começo dos anos 90 - estereótipo resumido na personalidade de outro cara que vivenciou aquele período: Christopher, loiro carioca filho de uma mulher esguia de cabelo curto nascida no Recife e de um cara com barba grisalha e cabelo à escovinha, tipo o Ray Conniff, nascido na Inglaterra. Christopher chamava a mãe de “mom”; o pai de “dad”; a gente de “filho de “pescador”, de “vassalo”, de “sobrinho de faxineira”, de “figurante da novela Escrava Isaura”, de “stupid”, de “asshole”, de “son of a maid bitch”, mas nós gostávamos dele. Christopher tinha uma puta coleção de Playmobil. Christopher tinha uma puta coleção de Comandos em Ação. Christopher tinha um puta apartamento na cobertura do prédio. O puta apartamento do Christopher tinha também uma puta piscina. Christopher tinha um puta Master System. Master System é um videogame que até puta viciada em crack desdenha hoje em dia. Christopher tinha uma prima chamada Jennifer, que não era puta. Jennifer era galesa, parecia uma girafa desengonçada, ninguém entendia porra nenhuma que ela dizia, tinha uma risada de síndrome de down, mas eu a amava. Aos 10 anos, Jeniffer tinha um metro e setenta. Aos 10 anos, eu tinha um metro e cinqüenta. Aos 55, minha mãe tem um metro e quarenta e nove. O meu pai nasceu em 1949, chama-se João, tem 1,77 e vive do balé. Digamos que Jennifer era um jogador búlgaro de vôlei e eu era o anão que cantava com o Kid Rock. Digamos que eu era a Nicete Bruno e ela era o Paulo Goulart. Dizer “Uau”, quando criança, é fofo. Depois dos 20, é gay. Jussara Gosta de Mulher e Tem Peito de Homem também era (é) gay mas nós não sabíamos que menina que gosta de menina também podia ser denominada gay. Por isso a chamava-mos de “esquisita”. “E feia.” “Não chama ela pra brincar com a gente.” “Qual o seu nome, cara?” “Tu também tem pinto?” “Ontem eu vi um filme e me lembrei de você: Minha Vida de Cachorro.” 1990 e as corridas com palitos de picolé da Kibon (sem premiação) que eram realizadas nos pequenos córregos que se formavam quando a nossa rua de terra era castigada pela chuva; de segunda a sábado às 19:00 era hora de Vamp com pipoca de panela na casa do Fabiano; na casa do Fabiano vi sua irmã mais nova cagando, na cozinha, sobre um balde de plástico aquilo que eu ainda insisto em acreditar ser uma almôndega generosa com o sangue fazendo as vezes do molho de tomate; 1990 e a minha prima roubando, depois da escola, balas na loja de conveniência da Texaco; no campinho de terra que ficava em um terreno no final da rua, o jovem Ismael arrancou, aos socos, o aparelho fixo de um gordinho turista folgado chamado Marcos, que achou, sem sombra de dúvida, que iria morrer no momento em que o aparelho, ornado por borrachinhas tricolores paulistanas, incrustou-se sobre suas gengivas saudáveis; jogo de taco com taco profissional da Topper de propriedade dos irmãos RodrigoCláudioMaurício; Rafael Camarão disse que o seu pai espirrava “Atchô!”; 1990 e a propaganda do novo micro-system da Gradiente com a trilha sonora do C&C Music Factory (para quem desconhece, pense no pior dos anos 80 que se sai melhor no século XXI), grupo que cunhou o nefasto termo “Poperô”; 2001 e a mesma prima que roubava balas na loja de conveniência da Texaco foi presa no aeroporto de Zurique, na Suíça, por carregar no corpo, tal como uma “mula”, uma quantidade astronômica de drogas pesadas. Uma famosa atriz brasileira da atualidade disse que “a vida começa aos 45”. Eu digo a ela que a vida começa quando a alegria acaba. Ser jovem nos anos 90 é odiar os anos 80. Depois do Hollywood Rock, Alex parou de gostar de New Kids On The Block e passou a idolatrar o Guns N’ Roses. Nós questionamos, em uníssono, “Já?”. Ser jovem nos tempos atuais é amar os anos 80. Nicolas era o único brasileiro de uma família argentina que torcia para a seleção da Argentina e era obrigado pela mãe a tocar piano e a se vestir como uma criança argentina no período da ditadura. Nicolas, O Brechó Ambulante. 1990 e todos pendurados no caminhão de lixo. Fabiano caiu do caminhão de lixo sobre uma poça de lama e pediu calça de moletom emprestada para todo mundo no intuído de atenuar a dor que viria à tona no inevitável espancamento perpetrado pela sua mãe. Alice, irmã de Nicolas, loira argentina peitudíssima de pele lívida, uma vez perguntou pra mim, depois de perceber que eu estava olhando avidamente para os seus peitos: “Te impressiona? Quer tocá-los?”. A primeira vez que gozei sem precisar tocar a primeira vez no corpo de uma mulher. Ser jovem descolado nos anos 80 é odiar os anos 80. Deus criou a beleza. Deus criou a natureza, o verde, o vermelho, o arco-íris, o calor, a sombra, o perfume, as águas claras, azuis, os cães saudáveis, os gatos ronronantes, a lama terapêutica, o olhar, os olhos claros, o sorriso, as cutículas, as unhas, a chuva redentora, o fim de tarde, a água que sai da mangueira, as ilhas longínquas, a neve e as estrelas. Deus criou a berinjela, a catapora, o estrabismo, a conjuntivite, os cegos, o câncer e os irmãos siameses. Nos anos 70, no Brasil, ser jovem é ser americano ou inglês nos anos 60. Alex parou de gostar de Guns N’ Roses e assumiu peremptoriamente: “O que vira é Red Hot Chili Peppers!”. “Já?” Uma semana depois, Jussara Gosta de Mulher e Tem Peito de Homem quebrou todos as fitas K7 que tinha do Guns N’ Roses. Cadu e o seu pai viviam para matar porcos para viver, pelo menos, até os 60. Minha mãe de um metro e quarenta e nove e o meu pai de um metro e setenta e sete organizaram para mim, de um metro e cinqüenta, uma festa de onze anos com temática dos anos 50 – eu ganhei uma fita do Vanilla Ice. Alex esqueceu Chili Peppers, Danzig, Faith No More, Cypress Hill, Rage Against The Machine, Primus, Sepultura, Slayer e assumiu de vez: “O que vira é dar o cu.” Jussara Gosta de Mulher e Tem Peito de Homem não curtiu e disse: “Ih, malandro, o cara é gay, sai fora!”. Douglas morreu de catapora e me lembro do seu pequeno caixão sendo vedado após duas pazadas de terra e da respiração do seu cachorro dormindo no meu colo. A mãe de Douglas me perguntou “Por que ele?”. Eu pensei, “Por que não?”. Os familiares jogaram flores sobre o caixão, os vizinhos jogaram flores sobre o caixão, a mãe tentou se jogar sobre o caixão, duas semanas depois ela se jogou do terceiro andar do prédio, quebrou os dois tornozelos, não perdeu a vida, mas perdeu o marido. Eu joguei algum dinheiro que devia para ele. Um dia antes de morrer, ele me cobrou: “Até amanhã, caralho!”. “O amanhã acabou hoje”, pensei. Foi mal. Ser jovem nos anos 80 é imaginar que, depois do surgimento do Atari, o ano 2000 terá carros voadores. Deus inventou o amor. Deus inventou o ser humano. Deu nessa merda!

por Leonardo Marques

Novidade de rola pequena

Tudo que é bom é inesperado. Acontece que a Action ganhou um colaborador novo. Conheci o cara na Faculdade, ele me apresentou o Gonzo e costumava ser o aluno underdog da classe. Apesar de corinthiano, o cara tem um talento fodido, impossível não rir do que ele escreve. Fã de The The e grande mentiroso, vos apresento a coluna de Leonardo Marques. Toda sexta-feira na Action. A estréia acontece ainda hoje!


Rui Costa

quinta-feira, maio 21, 2009

Parada de ônibus

Daqui pra frente, todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreverá crônicas sobre a cidade pra Action. Hoje, sua sétima crônica.

Acordei. Estava na porra do porto. Como tinha ido parar ali? Não faço a mínima idéia. A última coisa que me lembro é daquele puteiro imundo onde fui parar com alguns amigos. Fui sob a condição de que um deles pagaria tudo. As cervejas, não as putas. Era preciso coragem para comer qualquer uma delas. O lugar era tão fuleiro que era o único que permitia a entrada de gente àquela hora da manhã. Aliás, que tipo de filho da puta vai para um puteiro às quatro e meia da manhã?

Lembrei que não consegui beber as quatro cervejas a que tinha direito. Já estava louco o suficiente quando entrei lá. Vomitei no banheiro. Em toda a parte, menos na privada. As putas naquela porra eram tão feias que tinham até medo de chegar em qualquer um de nós. Uma, inclusive, estava grávida. Provavelmente de uns oito meses.

Caralho, como eu tinha ido parar no porto? Lembro de estar em um ônibus cheio de rostos cansados e gente com sorriso falso indo para os seus trabalhos de merda. Mas isso tinha sido de manhã. Agora era noite e eu estava no porto. Já havia passado um dia inteiro? Ou mais de um dia? Tinha comido algo? Não sei. Queria apenas admirar o porto. Aquele lugar ficava incrivelmente bonito iluminado pela luz da lua e pelos refletores ao longo do cais. Estava perto de uma placa de “Parada de Ônibus”. Encostei ali e esperei.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

quarta-feira, maio 20, 2009

A (falta da) Motown no Brasil

A Motown com certeza é o maior exemplo de como a música negra transcendeu os pequenos guetos e atingiu um sucesso inimaginável. Era difícil imaginar que nos anos 60, negros poderiam entrar nas paradas musicais e lotar casas de shows. O racismo forte, a segregação racial, a separação entre clubes para brancos e os para negros. Tudo isso contribuia para uma hipocrisia fodida. Enquanto alguns negros faziam um trampo sofisticado e classudo, vendendo disco pra caralho, alguns brancos barravam os próprios negros de assistirem aos patrícios.

Contudo, a situação da pós guerra começava a mudar esse cenário, com uma abertura maior para o negro. Nos anos 50 iniciava um processo que era uma verdadeira façanha a um caminho mais igualitário com a música como ponta de lança, graças a Ray Charles, Chuck Berry, Nat King Cole e outros, mas faltava um empurrão definitivo. Em Detroit, cidade nortista americana famosa por suas fábricas de carro, a famosa Motor Town, um empresário negro, Berry Gordy Jr, funda a Motown, em 1959.

O selo, que hoje em dia foi absorvido pelo grupo da Universal Music completa 50 anos em 2009 e vem recebendo muitas homenagens. É uma pena que no Brasil, pouca gente dê a importância devida para a Motown e isso vem de muito tempo atrás. Quando o "Motown Sound" estava no seu auge nos EUA e em outros lugares do mundo, o Brasil ainda vivia sua fase da Jovem Guarda, e quando os músicos do nosso país assimilaram a música negra em seus sons, o Soul já estava mais funkeado, quase partindo pra Disco Music. Não vamos partir para um argumento 'sempre fomos atrasados', ou qualquer coisa do tipo. O que aconteceu foi que a 'fase black' brasileira demorou um pouco a chegar, com nossos grandes soulmen estourando depois.

É claro que não renegamos como a Soul Music foi absorvida aqui no Brasil. O funk de Tim Maia, o Samba-soul do saudoso Wilson Simonal, os caras fodidos como Dom Salvador, Gerson King Combo e até mesmo o Roberto Carlos, que flertou com o Funk de forma mambembe. O fato é que há uma lacuna grande no quesito pelo Brasil. Não é punheta; o que ficou conhecido como Motown Sounds aparenta ter tido pouco reconhecimento por aqui. As únicas músicas da Motown que atraíram alguma atenção aqui no auge da gravadora nos anos 60 foram Stevie Wonder, com My Cherie Amour e For Once in My Life e e Four Tops com Reach Out (I'll be there).
Claro, o soul veio pra cá, mas o que foi trazido do selo é um material escassíssimo, tal como as influências dos músicos da terrinha.



Seria muito legal se os músicos atuais fossem correr atrás das letras do trio de ouro da Motown, Holland-Dozier-Holland, o baixo hipnotizante do James Jamerson e da bateria de Richard Allen e Clifford Mack, ao contrário da grande sombra na qual muitos vivem hoje de chupinharem um som pausterizado sem alma que hoje infelizmente presenciamos por aí. Alguém pode vir e falar que o rap comercial atual é superlegalzão, tem até G-Unit sampleando Cartola. Puta tristeza, colocaram o trecho onde ele canta 'Deixe-me ir/preciso andar/Vou por aí a procurar' no começo de uma música com Movado, músico jamaicano, enquanto a mídia especializada daqui masturba o Don Cannon, o cara que teve a idéia de colocá-la na track. Até a referência bacana, quando usada, é de maneira pobre.

A música negra só é o que é hoje, mercado e sonoramente falando, graças a Motown. É fato que se você perguntar pra toda a molecada que faz sucesso atualmente, os caras tem inspiração nesse pessoal. Será? A qualidade do som feita hoje em dia é bem discutível, mas as influências estão lá. Muitos podem questionar esse texto perguntando do pessoal da Stax, da Atlantic Records, dos artistas da Filadélfia e de Chicago. Claramente importantíssimos, todos conseguiram dar sua visão musical pro Soul, mas é inegável que foi a Motown que conseguiu fazer o pessoal ser olhado com mais atenção e com mais respeito.

De qualquer modo, brindamos à Motown e a cada uma de suas estrelas que ajudaram a erguer o negro através de talento e empenho.

R. Darci e Morone

EDIT:

Putz, o DJ Benjamin Ferreira, do Boogie Central, nos deixou um comentário na caixa que adicionou umas infos legais e, até pra não se perder, o transcrito veio pro artigo principal:

"Embora a trajetória de Berry Gordy e a Motown tenha sido um tanto controversa e muitos defendam que o chefão era bastante envolvido com a máfia, isso não diminui em nada a virtuosidade de todos os envolvidos com a Motown durante todos esses anos. Mesmo com as vendas em baixa, entraram pela era disco e pelos anos 80 fazendo e entregando muita música boa.

No Brasil, infelizmente, amargaram anos de distribuição capenga - acho que os discos da Motown começaram a chegar pela Tapecar, gravadora bem pequena. Depois foram pra Top Tape, que melhorou um pouco o esquema de distribuição, lançando inclusive alguns 12inch singles, o que pros DJs brasileiros da segunda metade dos anos 70 significava muito!

No entanto, a coisa só se propagou mesmo quando o catálogo da Motown começou a ser lançado pela RCA, mas aí já estamos falando de fins dos anos 70/início dos 80. Motown no Brasil foi da RCA até 1989, quando a Universal comprou todos os direitos.

Há algum tempo eu coloquei no Discogs algumas infos e fotos de alguns releases da Motown no Brasil pela Tapecar e Top Tape.

http://www.discogs.com/label/Tapecar
http://www.discogs.com/label/Top+Tape

Valeu!

segunda-feira, maio 18, 2009

E, agora, o melhor do novo

Nem sei bem como começar essa matéria. É foda quando se precisa falar de uma banda que tá perto de ti, ao contrário de uns caras que moram no leste europeu, e, por conta disso, tudo fica mais intimo. Eu devo produzir festa há cerca de cinco anos, sendo que a primeira e a mais querida foi a Bomboclaat, em 2004, que rolou no Atlético Santista. Era a primeira no estado, se pá Brasil, com a proposta de rolar sons jamaicanos sem desbancar pro roots cachoeira ou pro skacore, focando muito em early reggae e ska. Algo um pouco mais conceitual, pra quem manjasse, e foi bem restrito, com uma discotecagem bacana feita por mim e pelo Porko, que atualmente discoteca na Reggay420. Na época, não havia muito público, cenário que mudou desde então, sendo que temos festas finíssimas pipocando pelo eixo Rio-São Paulo, com a Jurassic Sound System, You and Me on a Jamboree, Moa Anbessa etc, e até mesmo no Nordeste, com o Ska Brothes e Alma Negra. Além de pouca gente, não haviam bandas que tocassem ska de qualidade. Eram todas puxadas pro skacore ou 2tone, nenhuma focando no berço, a Jamaica. A única, de longe, que fazia algo do gênero, era a Baboom.

Havia conhecido a banda dois anos antes, num evento chamado SkaBlaBla, organizado pelo Zerbinato no paço municipal de Diadema, e na ocasião a banda se chamava Orangotango Baboom. Na organização da Bomboclaat, além de problemas costumeiros, os caras não queriam tocar nem fodendo. Eles tinham três ou quatro músicas gravadas com o nome antigo da banda, com uma pegada parecida com ska brasileiro dos anos 90, mas já tinham anunciado a mudança de repertório. O problema era que eles faziam o que a maioria das bandas não faz mas deveria fazer: ensaiar exaustivamente a ponto do som ficar completamente redondo. E, por julgarem não estar ainda, não foi tão rápido que toparam tocar por aqui. Bem, eles se apresentaram naquele dia e seis outras vezes em Santos. É uma das bandas que tenho mais gosto e chamo pra todo evento que posso; não tem um cara, desde o playboy ‘eclético’ até o reggeiro chato, que não reconheça o talento astronômico deles.

Desde as primeiras gravações eles adicionaram à sua música novos elementos como teclados e percussão de maracatu, gênero que se faz presente fortemente nas novas tracks. Ao vivo, tocam até riddins clássicos em outra roupagem. Estão para gravar/gravando essa nova onda há anos, e, esta semana, saiu a primeira leva e já colocaram no MySpace. Ficar descrevendo mais como é o som não compensa, eles fazem algo completamente diferente do que você já ouviu. Escute e ponha um sorriso nos lábios.

Myspace da Banda

R. Darci

sexta-feira, maio 15, 2009

Mama Afrika never lets you down #4

Depois de um longo e tenebroso inverno, nosso quadro favorito(e único) da Action está de volta! Pra quem nunca ouviu falar, o Mama Afrika never lets you down foi uma idéia de reunir bons sons pra se curtir no fim de semana. E tentando voltar a fórmula de apresenta-los nos fins da semana, tá aí a edição 4!


Stevie Wonder - Do i Do

Stevie Wonder aniversariou nesse último dia 13 e nada mais justo que homenagea-lo por aqui. Ele transcendeu o "Motown Sound" e criou um estilo próprio, focado em viagens místicas e letras de cunho político e social. Multi instrumentista e grande discípulo do mito Ray Charles, o cara tá na ativa até hoje fazendo parcerias interessantes, como a com o Raphael Saadiq, que já falamos por aqui inclusive.

Vamos deixar o papo de lado e ilustrar tudo isso com uma das tracks mais legais e subestimadas de sua carreira: Do I Do, um boogie que conta com a participação do lendário Dizzy Gillespie e uma curiosa parte em que Stevie começa a fazer uma espécie de"Flow" no final da música.

Fica a homenagem ao grande amigo e terceiro membro do nosso coletivo, Roberto Iwai, atualmente exilado no Japão e responsável por me fazer correr atrás de toda a carreira do cara. Valeu mano!




Yellowman - Mr chin

Yellowman tem uma das histórias mais bonitas e curiosas da música. Jamaicano e Albino, conseguiu vencer o preconceito e duas batalhas contra o câncer, se tornando um dos mais respeitados Toasters da Jamaica, tendo inclusive reconhecimento internacional. Com letras cheias de sarcasmo e bom humor, nessa o cara fala de um affair com a filha de um comerciante chinês na ilha, genial.




Carla Thomas - I`ll Never Stop Loving You

A Carla Thomas é conhecida até hoje como a rainha de Memphis, essa alcunha não poderia ter outra dona. Filha do fodão Rufus Thomas, ela já fez duetos maravilhosos com Otis Redding e foi uma das baluartes da Stax nos anos 60 e 70. A I`ll Never Stop Loving You foi feita em 1963, e tem um instrumental extremamente doce, com uso de vibrafone e uma bateria suave, na medida certa pra linda voz dela.




Mor Thiam - Ayo Ayo Nene

Pra terminar, já vou avisando pra ignorarem o vídeo e só escutarem o som, nada tem a ver com esse funkeado jazz do Mor Thiam. Pasmem, ele é o pai do Akon e é considerado um dos grandes mestres do jazz africano. Aliás, o "Afro-Jazz" como alguns costumam chamar, tem influências variadas. Puxam daquela coisa espiritual dos cantos gospels até batidas funkeadas e cantos tradicionais da música africana. Uma pena que o Akon não trilhou os passos do pai....



Confira as edições passadas do Mama Afrika aqui:

Edição 1
Edição 2
Edição 3

domingo, maio 10, 2009

#41

Poster Via Flickr da Action

quinta-feira, maio 07, 2009

Semáforo

Daqui pra frente, todas as quintas, o colega Ciro Hamen, do Acento Negativo, escreverá crônicas sobre a cidade pra Action. Hoje, sua sexta crônica.

O sinal para pedestres fechou. Corri, mas fiquei ilhado naquele pedaço de calçada que separava as duas metades da avenida. Precisaria esperar o sinal abrir novamente para atravessar.

Vindo do outro lado da rua, era ela. Não podia acreditar. Não conseguia respirar. Congelei. Usava uma saia vermelha, uma blusa branca e tênis marrons. Estava bela como em todas as outras vezes que a vi. Adorava o seu estilo. Queria tirar uma foto e guardar aquele momento para sempre.

Também usava óculos escuros. Nós dois usávamos. Por causa disso não sabia se ela me via. Mas percebi o momento em que ela chegou. Ficou parada na minha frente separada pelos carros e seu rosto se fixou na minha direção. Ela tinha me visto.

Se não usássemos os óculos isso não teria acontecido. Por que tinha que fazer tanto sol justamente naquele dia? O que fazer? Acenar para ela? E se ela realmente não estivesse me vendo? Ia ficar com cara de babaca no meio da rua.

Sem os óculos, nossos olhares se cruzariam e pararíamos para conversar.

Queria pegar ela e levar para a praia naquele momento. Afinal, estávamos tão perto. Era só andar mais duas quadras e sentiríamos a areia batendo na nossa cara. Ela ia se atrasar para o trabalho, mas não faz mal. Estaria comigo.

Ela olhou para o semáforo. Ainda estava verde para os carros. Depois olhou para mim novamente. Eu sabia que ela olhava para mim. Sem saber direito o que fazer, também olhei para o semáforo. Continuava verde.

Os carros pararam. O sinal para eles fechou. E para nós abriu. O que eu fazia agora? Parava ela? Puxava ela? Tínhamos que andar. Um passo depois do outro. Ela estava do meu lado. Aparentemente também não sabia o que fazer.

Passei por ela. Não fiz nada. Ela também não. Merda. Apenas continuamos seguindo os nossos caminho. Não olhei para trás.

Ciro Hamen é jornalista, escreve diariamente sobre cinema no blog www.acentonegativo.blogspot.com e todas as quintas-feiras no Coletivo Action.

segunda-feira, maio 04, 2009

Banda Black Rio, a dream band do movimento Black

O mês de Maio marca a volta da Virada Cultural em Santos. Junto com ela, uma banda que marcou a música negra brasileira: A Banda Black Rio.
Contudo, não podemos falar da banda sem deixar de falar do Movimento Black Rio. No fim dos anos 60 e início dos 70, rolaram vários bailes pelo Rio de Janeiro. Apesar de, inicialmente, serem frequentados pela perifa, aos poucos surgiram outros em regiões com mais grana, como o Baile da Renascença, a famosa noite do Shaft.

Foi nessa época que o Soul bombou no Brasil e a cultura black dominou, Mesmo com toda pressão da ditadura, da esquerda e dos sambistas das antigas. Era de consenso quase geral que essa apropriação de uma cultura estrangeira, e mesmo a própria ascensão do negro, era incômoda.

A banda Black Rio surgiu nesse período, a pedido da Warner a Oberdan Magalhães para juntar músicos que mesclassem soul music com samba. Assim como o Skatalites na Jamaica, outra dream band foi criada. Com os melhores músicos da cena, agora no Brasil e com o black: Luis Carlos, Cristovão, José Carlos Barrosinho, Lúcio Silva, Jamil Joanes e Claúdio Stevenson. Alguns deles, ex-membros da lendária Impacto 8, que já tinha feito muita coisa boa por aí.

Formação atual da Black Rio

A carreira foi curta, tendo apenas lançado três discos, e teve um peso tremendo. Talvez só não teve peso maior que o Tim Maia perto do fim de sua carreira. Do Maria Fumaça, seu disco de estréia - que rendeu até música em novela da globo - ao derradeiro disco Saci Pererê, de 1980, o grupo fez funk, samba, soul, boogie e até alguma coisa de baião, que já havia sido experimentada pelo, novamente ele, Tim Maia. É uma mistura sensacional e única. Tanto é, que o som é reconhecido no mundo inteiro, tendo fãs da estatura do Kay, do Jamiroquai.

Com o pedido da gravadora para inserirem vocais em algumas músicas, além de outros problemas, o Black Rio foi perdendo alguns de seus membros, como Jamil Joanes e Cristovão Bastos, que foram logo substituídos por Valdeci Machado e Jorge Barreto. Mesmo continuando a fazer shows, o declínio do Movimento Black Rio colaborou com o fim da banda, juntamente com a morte de Oberdan Magalhães em um acidente de carro.

A banda voltou em 2001, reformada pelo filho de Oberdan, lançando o disco "Movimento", apesar do fato de não haver ninguém da formação original no grupo. Existe, inclusive, uma certa polêmica entre os músicos ainda vivos e a nova formação. Não queremos entrar nessa discussão, somos meros fãs da Black Rio. A torcida fica para que tantos os membros antigos quanto o filho do Oberdan, William, consigam entrar em um consenso, não só em respeito aos membros falecidos, mas a todos os velhos e novos blacks por aí. E claro, que o show do dia 16 seja do caralho!

Pra encerrar, fiquem com Maria Fumaça, o maior hit dessa banda:



Release oficial do Show na Virada Cultural em Santos:


Dia: 16/5
Horário: 18h
Local: Praça Mauá

Abertura oficial com Banda Black Rio

Misturando Funk, Jazz e Samba, o grupo surgiu na década de 70 e continua fazendo sucesso até hoje. O show da Banda Black Rio apresenta, além das músicas da primeira fase, como Mr Funk Samba e Maria Fumaça, composições mais recentes, entre elas Nova Guanabara e Carrossel, oferecendo ao público um panorama da evolução do cenário samba/funk/soul brasileiro, com muito suíngue


sábado, maio 02, 2009

Inner Circle, what you gonna do when dem come for you?



Autores de muitas pedradas do reggae, o Inner Circle acabou se vendendo e se mesclando com a cultura e música pop após a morte em 1980 de seu líder, Jacob Miller , em um acidente de carro e que havia sido integrado à banda em 1976.

Apesar de ótimas músicas, a banda ficou famosa por alguns dos seus trabalhos ‘mais ou menos’, como a música Bad Boys, trilha do seriado ‘Cops’. Todos a conhecem e foi regravada ad infinitum. Lembra-se? Bad boys, bad boys, what you gonna do, what you gonna do when they come for you?
Essa foi uma música que foi originalmente lançada no álbum One Way, de 87, e relançada no disco chamado (pasmem) Cops. Juntamente nele havia outra tune popular e todos que se lembram minimamente dos anos 90 a conhecem. Qual?



Sweat (A-la-la-la-la Long) foi uma das mais tocadas da época, uma das piores músicas chicletes e das quais todos só conheciam o título e complementavam o resto da música com ‘nanãnãwooo naanaaaaaais aaaais ei!’.

Além dessas, ficaram famosos com Games People Play e Summar Jammin’, mas que não se equiparavam nem de longe com tracks mais antigas gravadas por eles, como a memorável Tenament Yard que, se não me engano, foi regravada de modo ainda melhor pelo imortal Max Romeo. A banda, que começou em 68, pelos irmãos Ian e Roger Lewis, lançaram discos pela Trojan e Island, e, após a infelicidade da perda de Miller, a banda deu uma parada. Porém voltaram em 1986, algo que não deveriam ter feito.

Fiquem com uma das melhores tracks feitas pelo ex-líder, Jacob Miller



R. Darci

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